Filme do dia (272/2021) - "É Proibido Procriar", de Michael Campus, 1972 - No futuro, a superpopulação da Terra e o esgotamento dos recursos naturais obrigam os governos a tomar uma medida drástica: proibir a gravidez e o consequente nascimento de bebês por trinta anos. Oito anos após o decreto, o casal Russ (Oliver Reed) e Carol (Geraldine Chaplin) burlam toda a segurança e resolvem levar adiante a gravidez ilegal de Carol.
Inspirado em um livro de não ficção - "The Population Bomb", de Paul Ehrlich -, o filme é uma distopia apoiada em ideias nada absurdas. No futuro, o excesso populacional esgota os recursos naturais e chega a um limite impossível de ultrapassar. O meio ambiente, completamente destruído, não suporta mais a humanidade, obrigando os governos a tomarem medidas drásticas para impedir o crescimento da população. A obra traz críticas muitíssimo pertinentes aos excessos do homem, à destruição do meio ambiente, ao consumismo desenfreado, ao uso de fontes energéticas poluidoras, aos governos totalitários e à questão da responsabilidade versus liberdade. A distopia retratada chega a ser deprimente - não existem mais animais e as plantas estão em número reduzidíssimo; a maior parte das fontes de água estão poluídas e muitos lagos foram aterrados para dar espaço à população crescente; o lixo se acumula nos escombros subterrâneos das cidades; não há liberdade pessoal e os governos tratam a população como gado. Neste panorama, surge o casal Russ e Carol que resolve transgredir as leis para ter um bebê - cria-se, assim, uma questão ética relacionada a liberdade pessoal em detrimento da responsabilidade social, de resposta complexa e controvertida. A narrativa é linear, em ritmo moderado. A atmosfera é angustiante e tensa, já que os personagens não podem revelar seu segredo, pois a conduta deles é punida com a morte. Se as ideias contidas da obra são bem verossímeis e propiciam discussões ricas e interessantes, a estética, por seu lado... é uma desgraça. O imaginário de futuro da década de 70 mistura clichê com kistch e o resultado é uma catástrofe visual - tudo no filme é profundamente fake, cafona e de mau gosto e é perceptível que tudo ali foi feito em estúdio: péssimo é pouco. A fotografia, como de costume nos anos 70, é meio "lavada", bem chapada, com poucas nuances de luz e sombra. Os planos são os mais convencionais e pouco criativos. Não achei, tampouco, as interpretações muito melhores - tanto Oliver Reed, quanto Geraldine Chaplin pareciam pouco à vontade em seus papéis, muito contidos. A impressão que eu tive é de que o problema foi na direção de atores mesmo, porque até os figurantes pareciam pouco naturais. Enfim, um filme com ideias boas mas com uma produção que deixou bastante a desejar. Não direi que é uma má obra, mas tenho ressalvas. Acho que vale pelas críticas embutidas.
PS: outro daqueles casos em que o título do filme não só não ajuda como atrapalha. O instigante título original é "Z.P.G." que, somente no desfecho, se revela significar "Zero Population Growth". O título em português "É Proibido Procriar", horroroso, revela muito mais do que o original. Quem inventou o título nacional deveria levar uma sova, viu...
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