Filme do dia (161/2018) - "99 Casas", de Ramin Bahrani, 2014 - Depois de ter sua hipoteca executada e ser despejado de sua casa, Dennis (Andrew Garfield) aceita trabalhar para Rick Carver (Michael Shannon), o agente imobiliário responsável por seu despejo. A medida em que assume os novos despejos, Dennis passa a ganhar muito dinheiro, mas sua consciência passa a atormentá-lo.

O filme discorre sobre um tema espinhoso: a crise imobiliária norte-americana de 2008 (esmiuçada no ótimo "A Grande Aposta"). Mostrando, por um lado, o drama daqueles que não conseguiram honrar com os pagamentos de suas hipotecas e, por isso, perderam seus imóveis, e, por outro, o lucro desenfreado de alguns grupos financeiros a partir das execuções das hipotecas, a obra denuncia a imoralidade da "lógica do mercado" e do sistema capitalista. Quem não fica indignado com as cenas de despejo do filme só pode ter coração peludo, sério. O filme ainda retrata a forma como o capitalismo é hábil em "fagocitar" as pessoas, envolvendo-as e adaptando-as ao seu funcionamento - Dennis, pouco a pouco, torna-se igual ao seu algoz, ignorando qualquer freio ético em prol de uma contrapartida financeira. A narrativa é linear, cronológica e tradicional. O maior trunfo do filme, no entanto, não reside no roteiro - que é bom e trata de tema interessante - mas nas interpretações. Andrew Garfield está ótimo como o personagem Dennis, que vive o conflito entre seus interesses econômicos e o resquício de moral que possui. Laura Dern faz o contraponto a Dennis como sua mãe, indignadíssima com a conduta do filho, também muito bem no papel. Mas quem se destaca é o óóóóótimo Michael Shannon, que, quando encarna um vilão, o faz com gosto - seu Rick Carver é um dos personagens mais insensíveis e indignos que me lembro de ter visto nos últimos tempos, todo mundo vai amar odiá-lo! rs A obra é um tapa na cara, bastante boa. Eu curti.
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