Filme do dia (165/2020) - "A Árvore dos Frutos Selvagens", de Nuri Bilge Ceylan, 2018 - Sinan (Dogu Demirkol) terminou a faculdade e retornou à sua cidade natal. Com o sonho de ter seu romance publicado, ele segue os passos de seu pai e busca um emprego de professor.

Super elogiado pela crítica e por alguns amigos, fui certa nesse filme, crente de que eu o adoraria. Ai, que preguiça de filme! Tirando umas três passagens, dentre as quais a cena final que faz (pelo menos) valer a obra, achei a história arrastada, excessivamente longa e cheia de trechos totalmente dispensáveis, pois não fariam qualquer diferença para a narrativa. O filme, ainda, é cheio de um falatório sem fim, uma diálogos filosóficos meio furados que, na minha opinião, não funcionaram e deixaram o filme quase impalatável - vide as cenas do escritor e do imã. A obra discorre sobre vários temas, mas, os que, para mim, mais deram significância à narrativa foram a ideia de pertencimento, a ancestralidade, a imutabilidade, a frustração e a experiência que leva ao conhecimento. O protagonista pretende ser escritor. Ele tem sonhos de grandeza, crê que alcançará o reconhecimento e, em toda a sua arrogância, despreza a vida comezinha de sua cidade natal, a vida vazia de seus habitantes e, principalmente, seu pai endividado por conta de seu vício em apostas. Sinan é egoísta, cruel, ingrato e, mais do que tudo, arrogante - sim, eu detestei o personagem e por pouco não desisti de ver o filme por conta dele. O que Sinan não consegue perceber em meio à sua empáfia é que ele nada mais é do que um produto daquele meio, que ele guarda enormes similaridades com aquelas pessoas que despreza e que sonhos de grandeza se espatifam no chão com um pouco mais de força que sonhos mais modestos. Algo que me indignou muito no filme foi a relação estabelecida entre Sinan e seu pai - o desrespeito do jovem por seu pai, a sua incompreensão em relação à sua família, o constante julgamento e a sua incapacidade de oferecer algum acolhimento aos seus me deixou extremamente incomodada. Se pegarmos a história e enxugarmos um bocado, ela até é legal, ela tem um desfecho que salva o filme, com uma carga poética avassaladora e muita significância. Mas o diretor esticou a narrativa de um tanto e colocou cenas tão nada a ver - a bendita discussão com o escritor :Jesus, que personagem chato do cacete!!!! - que diluiu o que a história tem de bom e transformou o filme em uma "tour de force": haja saco para aguentar suas 3h08min de duração!! Mas algumas cenas salvaram o filme: a cena com Hatice, sua antiga colega de escola; o diálogo com sua mãe sobre seu pai; a cena do pai sob a árvore; e, principalmente, a cena final, essa magnífica, conseguiram me convencer, inclusive, a ficar com o filme na coleção. A obra tem uma fotografia muito muito bonita, extremamente poética, com enquadramentos por vezes bastante sofisticados. Admito que Dogu Dermikol fez um bom trabalho como o insuportável Sinan, caso contrário não o teria odiado tanto, mas quem teve uma interpretação incrível foi Murat Cemcir como o pai de Sinan, assim como Bennu Yildirimlar como a mãe dele. Well... o filme como um todo é chato. Chato porque longo demais e com um roteiro truncado. Foi indicado para um monte de prêmios em Cannes - e não ganhou nenhum. Mas, com alguma boa vontade, dá para assisti-lo e a cena final, como já disse, salva o filme. Mas não vou recomendá-lo. Quem quiser se arrisque por si só.
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