Filme do dia (56/2023) – “A Casa dos Maus Espíritos”, de William Castle, 1959 – O milionário Frederick Loren (Vincent Price) e sua esposa Annabelle (Carol Ohmart) convidam cinco pessoas que não se conhecem para passar uma noite numa suposta casa mal-assombrada, com a promessa de pagar dez mil dólares para cada um daqueles que permanecerem doze horas no interior do imóvel.
O argumento da obra – um grupo de pessoas que, por qualquer motivo, tem de passar um tempo em uma hipotética casa mal-assombrada – foi repetido, posteriormente, em outros dois filmes de terror, ambos ótimos – “O Desafio do Além” (1963) e “A Casa da Noite Eterna” (1973). Em comparação aos filmes posteriores, “A Casa dos Maus Espíritos” só tem a perder. Começa pela formação de atmosfera que, enquanto naqueles é construída com exímio cuidado, gerando suspense e tensão sólidos, aqui deixa muito a desejar, mal chegando a incomodar o espectador. Além disso, o desenvolvimento do roteiro, que em “Desafio do Além” aproveita a ambiguidade da narrativa da personagem Eleanor para criar dúvidas bastante robustas no espectador, e, em “A Casa da Noite Eterna” desemboca em terríveis acontecimentos sobrenaturais, aqui opta por explicações racionais e razoáveis que pouco se sustentam dentro da plausibilidade. Na realidade, o filme demora a se decidir se é uma obra de terror ou de suspense, algo que só se resolve tardiamente, resultando em clara frustração no público mais chegado no primeiro gênero. A narrativa é linear, em ritmo moderado e estável, com alguns poucos momentos de acirramento da tensão. A fotografia P&B bem contrastada ajuda a criar algum “climão” em momentos pontuais, que se perdem diluídos na completa ausência de atmosfera no restante do filme. O desenho de produção me soou confuso – a casa com design externo moderno (para a época) e interno com ares mais “góticos” não combina entre si e não colabora com a ideia de um imóvel mal-assombrado (que, no imaginário popular, está muito mais ligado aos casarões e castelos antigos). As duas cenas da “aparição” assustam, mas a explicação dada a elas é um balde de água fria no público. O elenco tem como carro-chefe ninguém menos que o icônico Vincent Price – na minha opinião, o melhor do filme é o diálogo do personagem Frederick com sua esposa Annabelle, recheado de ironia e deboche, exatamente o tipo de cena que Price fazia divinamente bem. Carol Ohmart interpreta uma Annabelle sexy e provocativa, mas que perde brilho se comparada a Vincent Price. O restante do elenco, composto por Richard Long como Lance, Alan Marshal como Dr. Trent, Carolyn Craig como Nora, Julie Mitchum como Ruth e Elisha Cook Jr. como Watson é bem morno, com alguma exceção ao último intérprete, bastante expressivo. Na minha opinião, a lógica do filme não se sustenta e nem a presença de Vincent Price, de quem sou fã declarada, salva a obra. Meia boca, não recomendo.
Comments