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hikafigueiredo

“A Flor do Meu Segredo”, de Pedro Almodóvar, 1995

Filme do dia (131/2023) – “A Flor do Meu Segredo”, de Pedro Almodóvar, 1995 – Leo Macias (Marisa Paredes) é uma escritora de romances açucarados que escreve sob o pseudônimo de Amanda Gris. Muito embora suas histórias sejam românticas e sempre tenham um final feliz, Leo está à beira de um colapso por problemas no casamento e familiares. Mas algumas decisões farão com que o destino surpreenda a escritora.





No melhor estilo almodovariano, o filme discorre sobre questões universais vistas sob uma perspectiva feminina. Leo é uma mulher madura envolta em problemas de ordem mais emocional do que prática – uma mãe idosa, doente, mas caprichosa; uma melhor amiga sem tempo para ouvi-la; e um casamento em crise de anos. Em meio ao furacão de emoções, Leo escreve sobre relacionamentos românticos e com desfechos felizes e previsíveis. Como escritora, ela se esconde sob o pseudônimo de Amanda Gris e, como mulher, ela se esconde por trás de suas histórias açucaradas e seu sucesso profissional. Mas colocar os problemas sob o tapete não é a solução e logo as crises pessoais de Leo sairão por completo de seu controle. Retomando a mesma temática de outras obras, inclusive de um de seus maiores sucessos – “Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos” (1988) - Almodóvar adentra o sobrecarregado universo feminino, onde as mulheres têm de enfrentar toda a sorte de crises emocionais que homens, via-de-regra, ignoram. Mais uma vez o diretor aposta no protagonismo feminino, com sua evidente preferência por personagens maduras, complexas, fortes, trágicas e dramáticas, que, a despeito de qualquer drama, continuam a seguir em frente, sempre ressurgindo de suas próprias cinzas como fênices. Leo – como tantas personagens de Almodóvar – tem uma sedução per se, algo indefinível, mas que lhe garante um brilho todo especial. Uma característica que marcou o início da filmografia de Almodóvar e que ainda se encontra nessa obra é a agitação, o falatório incansável dos personagens – essa característica logo foi abandonada, dando espaço a filmes mais densos, dramáticos e contidos. Encontramos, também, a típica estética almodovariana – tudo muito kitsch, colorido, exagerado e melodramático, com enquadramentos sofisticados e ultracriativos (como o encontro de Leo com Paco, isto através de pequenos espelhos na parede que revelam a relação estilhaçada do casal). A opção pelo excesso de cores, as cores muito saturadas e a predominância do vermelho também estão presentes na obra. Musicalmente, o diretor faz uso de músicas melosas (que poderiam facilmente ser chamadas de bregas), mas também aproveita a tradicional música flamenca (amo!). O elenco é encabeçado por Marisa Paredes, uma das musas do diretor - digo uma porque Almodóvar sempre teve musas: Carmen Maura, Rossy de Palma, Victoria Abril, Cecília Roth, Marisa Paredes e, atualmente, Penélope Cruz -, ótima como a caótica Leo; Juan Echanove interpreta Angel; Imanol Arias surge como Paco; Rossy de Palma faz Rosa e Carme Elias, Betty. O filme tem passagens incríveis, como a apresentação de dança flamenca ou a cena final, mas uma cena, em particular, me deixou extasiada – a roda de idosas que cantam ao mesmo tempo em que fazem tapeçaria (suas peças batendo uma nas outras fazendo uma musicalidade bem característica), dando o apoio necessário a Leo, num lindo movimento de sororidade: maravilhosa cena!!!! Apesar de não ser muito conhecido, não ter feito maiores sucessos, o filme é bem gostosinho e bem simpático. Eu curti e recomendo.

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