Filme do dia (21/18) - "A Fraternidade é Vermelha", de Krzysztof Kieślowski, 1994 - A jovem modelo Valentine (Iréne Jacob) atropela acidentalmente uma cadela. Ao encontrar seu dono, depara-se com um homem idoso recluso e amargo (Jean‑Louis Trintignant). Após um primeiro contato tenso, paulatinamente a jovem e o homem se aproximarão e estabelecerão um laço de amizade que modificará a vida de ambos.
Último filme da Trilogia das Cores e único que eu ainda não havia visto, a obra fecha com chave de ouro a trilogia. A obra discorre, antes de mais nada, sobre a empatia e a falta dela, sobre perdão, compreensão e redenção. Valentine é a imagem da empatia e doçura e vive imersa na sua crença no outro e na esperança. O idoso, ao contrário, descrente nos seres humanos, desiludido com tudo, respira amargura, punindo-se por atos que acreditava errôneos e praticando ações que sabe serem imorais e invasivas. O contato entre ambos trará a redenção do homem através da empatia e poder de compreensão e perdão da jovem. Num segundo nível, a obra ainda discorre sobre a ciclicidade do tempo, sobre os encontros e desencontros, sobre o destino e sobre a inter relação entre as pessoas e entre os fatos, mostrando como tudo no mundo está interligado e conectado. É um filme tão acolhedor, é uma obra que aquece, que demonstra que sempre há esperança e que é possível haver fraternidade entre as pessoas. O desfecho, amarrando os três filmes da trilogia é surpreendente, além de ser brilhante. A forma como a narrativa se desenvolve - num primeiro plano, os acontecimentos acerca de Valentine e o idoso, e, paralelamente e num segundo plano, as idas e vindas de um jovem desconhecido - é complexa mas, ao mesmo tempo, tão milimetricamente encaixada, que chega a ser perfeita. Não bastasse a história estritamente bem estruturada e contada, tecnicamente o filme é esplêndido!!! A fotografia e a direção de arte, perfeitamente casadas, destacam os elementos vermelhos que pontuam toda a obra. A fotografia brinca com luzes e sombras e não são poucos os quadros com uma beleza pictórica extrema. A trilha sonora, suave, envolve o espectador. Quanto às interpretações, Irène Jacob consegue fazer uma Valentine tão doce, tão empática e compreensiva, mesmo atolada em problemas pessoais e às voltas com um homem abusivo, que impressiona e enternece. Da mesma forma, Jean-Louis Trintignant faz com grande competência o papel do idoso que, pouco a pouco, graças aos contatos com Valentine, recupera as esperanças e seus afetos, conseguindo voltar à humanidade perdida. Belo, belo, belo, o filme é uma obra de arte e é imprescindível ser visto. Recomendo com fervor. PS - Assisti aos dois demais filmes há muito e muitos anos, vou precisar revisitá-los para lembrar melhor deles e perceber outras correlações que, provavelmente, não consegui perceber graças à minha memória de peixinho dourado.... :/ PS 2 - Este deve ser o último filme da trilogia a ser assistido.
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