- hikafigueiredo
“A Ilha dos Mortos”, de Mark Robson, 1945
Filme do dia (61/2023) – “A Ilha dos Mortos”, de Mark Robson, 1945 – Grécia, 1912. Durante a Guerra dos Balcãs, um grupo de pessoas, dentre as quais um general do exército grego, General Nikolas Pherides (Boris Karloff), fica preso em uma minúscula ilha em decorrência de um episódio de peste septicêmica. Entre os presentes, uma nativa, Madame Kyra (Helen Thimig), afirma que a jovem acompanhante de uma inglesa é uma presença maligna que está absorvendo a energia vital de sua empregadora.

Curioso este filme. Classificado como terror, ele se encontra, na realidade, na interface entre os gêneros terror e drama. A narrativa aproveita a figura folclórica da “vorvolaka” – uma espécie de morto-vivo da mitologia grega – para criar suspense e uma dúvida entre os personagens e os espectadores. Em pleno século XX, a personagem Kyra, a governanta grega de um arqueólogo suíço fixado na pequena ilha, crê que a jovem Thea, acompanhante de uma senhora inglesa, é uma “vorvolaka” e, como tal, está debilitando sua senhora. Enquanto os estrangeiros riem do alerta e da preocupação da nativa da ilha, os demais gregos presentes veem aquilo como mais do que mera superstição, inclusive a própria Thea, que se questiona se ela própria estaria adoecendo a inglesa que acompanha. A narrativa equilibra-se o tempo todo entre a percepção dos estrangeiros, que creditam os acontecimentos a questões facilmente explicáveis pela ciência, e a crença dos gregos – limitados à Madame Kyra, ao General Pherides e à própria acompanhante Thea – em questões sobrenaturais. Assim, o espectador tem a possibilidade de interpretar os acontecimentos segundo diferentes posicionamentos. Não há qualquer acontecimento da obra que não possa ser racionalmente explicado, mas, ao mesmo tempo, tudo “casa” perfeitamente com o que Kyra pressagia. Essa dubiedade é bem interessante e traz riqueza ao filme. Também é interessante a presença de Boris Karloff como general Pherides – o ator, sempre muito vinculado a figuras malévolas em filmes de terror, aqui dá lugar a um severo, mas também muito humano, general, preocupado com a segurança dos presentes na ilha e de suas tropas (motivo pelo qual impede que qualquer deles saia da ilha pelo perigo de contaminação com peste septicêmica). O roteiro é bem construído e não dá margem a muitas “previsões” – em outras palavras, não se apoia em clichês e não é previsível. A narrativa é linear, em ritmo lento, com leve aumento do ritmo nos minutos finais. A atmosfera é de leve tensão, o que faz com que o filme se torne um “terror suave” (melhor definição que eu consegui encontrar). Dos quesitos técnicos, o destaque fica por conta da fotografia P&B muito marcada, auxiliando na formação de suspense e tensão. No elenco, além de Boris Karloff, numa interpretação supreendentemente cuidadosa e sensível, Ellen Drew como a conflituosa Thea, em dúvida quanto sua identidade, em um trabalho consistente; Katherine Emery como a inglesa adoentada, numa interpretação suficiente, mas sem brilho; Marc Cramer interpreta o repórter norte-americano Oliver Davis, bem no papel; Helen Thimig interpreta a Madame Kyra, trazendo a tensão necessária à personagem. O filme me surpreendeu positivamente e não me deu sono em um dia em que eu estava particularmente cansada – um grande mérito. Gostei e recomendo.