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  • hikafigueiredo

"A Outra Face da Violência", de John Flynn, 1977

Filme do dia (243/2021) - "A Outra Face da Violência", de John Flynn, 1977. - Texas, 1974. O major Charles Rane (William Devane) retorna à sua cidade natal depois de sete anos como prisioneiro de guerra no Vietnã. Tendo sofrido terríveis torturas nas mãos do inimigo, ele retorna destruído psicologicamente, incapaz de se envolver emocionalmente com sua família. Quando um grupo de assaltantes invade sua casa para roubar o prêmio que recebera por sua coragem na guerra e dizima seus familiares, Rane se vê compelido a se vingar.





Apesar de parecer só mais uma história sobre vingança, a obra é bem mais que isso. Como inúmeros filmes da década de 1970, a obra abraça uma temática recorrente - a crítica à Guerra do Vietnã, tomando como reflexo o estado emocional daqueles que regressavam do embate. O filme enfoca o personagem Charles Rane - ou o que sobrou dele após passar sete anos nas mãos do inimigo. Vítima de terríveis torturas no cativeiro, Rane retorna estilhaçado internamente: como um morto-vivo, o personagem é incapaz de se conectar às pessoas e envolver-se emocionalmente com o que quer que seja. Após seu retorno à sua cidade natal, Rane tenta retomar sua vida, mas sua esposa e seu filho não o reconhecem mais - o que não desperta qualquer sentimento no personagem. Mesmo após a ação criminosa que sofre, Rane não desenvolve nem menos raiva pelos assaltantes e, se opta por se vingar, é mais pelo instinto, pela pulsão de morte, do que propriamente por seus sentimentos - o que resta ao ex-combatente é fazer aquilo que fora treinado para fazer, isto é, matar e seguir adiante matando quem atravessar seu caminho. Apesar da crítica embutida, a história segue como um filme de ação normal, com toda a violência que lhe caracteriza. A narrativa é linear, com flashes esporádicos da época do cativeiro, sempre em cenas P&B. O ritmo é muito marcado, quase frenético (digo quase porque os padrões atuais são muito diferentes dos daquela época e nenhuma obra setentista chega perto na esquizofrenia dos atuais filmes de ação). A atmosfera confronta o estado de desilusão e ausência de emoções do personagem com a sua atitude desenfreada e violenta e, apesar de toda a ação envolvida, fala mais alto a apatia de Rane. Em termos técnicos, a obra é bem padrão dos anos 70 - fotografia "lavada", sem muitas nuances, pouco saturada e pouco contrastada, com planos convencionais e nenhuma sofisticação nas posições de câmera; o som pouco ou nada participa da construção narrativa e estabelece-se mais como mero som ambiente; a música de entrada do filme me chamou a atenção por sua suavidade, uma abertura curiosa para um filme sobre vingança. O elenco traz William Devane como Charles Rane e o ator consegue transmitir bem a ideia de apatia e inabilidade para a vida em sociedade após seu retorno aos EUA; Linda Haynes interpreta Linda, uma personagem que chegou a me irritar por retratar a submissão feminina e a ausência de "instinto de sobrevivência" das mulheres apaixonadas; Tommy Lee Jones, muito jovenzinho, interpreta o personagem Johnny Vohden, outro sobrevivente da guerra, igualmente transtornado e apático. Ééééé... é um filme com uma concepção interessante, mas que não deixa de ser um filme de ação - que, inúmeras vezes, já disse não ser meu gênero predileto. Assim, é uma obra que agradará quem gosta deste tipo de filme, mas que, para mim, passou meio batido. Mas não é ruim não, para quem curte, é uma boa pedida.

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