Filme do dia (145/2019) - "A Pequena Loja de Suicídios", de Patrice Leconte, 2012 - Numa triste Paris, o casal Mishima e Lucrèce ganha a vida com uma loja de "insumos para suicídios", possibilitando que desesperados consigam dar cabo da própria vida. Nesse cenário, a tristeza, a dor e a desesperança são virtudes a serem cultivadas e prestigiadas. A chegada de um novo filho - Alain -, alegre e cheio de vida, será um choque para o depressivo casal e colocará em xeque suas convicções.
Evidentemente inspirado na Família Adams (MIshima, inclusive, guarda semelhanças físicas com o eterno Gomez), essa animação discorre sobre a depressão e a vontade (ou não) de viver e traz uma mensagem de esperança embutida. Apesar de achar que a história não poderia ter outro desfecho, até por questões morais, o discurso motivacional me incomodou um pouco, ainda mais em épocas de "coachismo exacerbado". Também acho que a solução encontrada muito fácil, muito rápida, muito simples - e a depressão não pode ser vista sob ótica tão simplista, do tipo "basta querer para sair dela". Assim, por questões éticas, guardo ressalvas com relação à história, pois não acho que esse assunto deva ser abordado, desde o início, da forma como foi (veja bem, isso pode parecer exagero para alguém que não tenha vivido a experiência de uma depressão, mas para um real depressivo, a história, além de ser gatilho para depressão e suicídio, é quase uma ofensa a quem sofre desse mal). E não para por aí. A cena em que a irmã de Alain dança nua e é observada pelo irmão e pelos amigos dele sem ela saber - e portanto, sem sua permissão - me pareceu abusiva, ou, no mínimo, invasiva, ainda que não houvesse maiores implicações em tal atitude. Enfim, para mim, bipolar diagnosticada e assumida, acho que a animação possui grandes equívocos sob uma aparente aura de alegria, inspiração e boas intenções. Apesar disso e da temática pesada, a narrativa flui leve, é entremeada de musiquinhas, e para o público geral, que esteja em dia com a saúde psicológica, pode transcorrer gostosamente, nem abrindo espaço para as minhas elucubrações acima. O traço do desenho é mais para o infantil do que para o realismo e alterna os tons de cinza em torno dos depressivos e da família de Alain da explosão de cores ao redor do próprio Alain. Sinceramente, não sei dizer se gostei. Fiquei tão incomodada com as questões que interpretei, que acho que o filme ganhou uma aura negativa para mim. Inclusive gostaria de saber a opinião de quem viu, o que achou, pois desconfio que sou voz dissonante em meio aos espectadores. É isso.
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