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hikafigueiredo

"A Rotina tem seu Encanto", de Yasujiro Ozu, 1962

Filme do dia (32/2021) - "A Rotina tem seu Encanto", de Yasujiro Ozu, 1962 - O viúvo patriarca da família Hirayama (Chishu Ryu) sente-se confortável sendo cuidado por sua filha Michiko (Shima Iwashita). Seus amigos, no entanto, alertam-no para que ele permita que sua filha case e vá viver sua própria vida.





Retornando às temáticas das relações familiares e dos casamentos arranjados, frequentes no cinema de Ozu, o diretor assume o ângulo de um homem de meia idade, viúvo, que resiste à ideia de casar sua filha de vinte e quatro anos. Os amigos insistem para convencê-lo, mas somente quando ele reencontra um antigo professor e conhece a triste a amarga filha solteirona dele que ele percebe que pode estar cometendo um terrível erro. O diretor mantém-se dentro de questões cotidianas e corriqueiras, perscrutando os sentimentos que conduzem os personagens, invadindo, sorrateiramente, a intimidade de suas casas e relações pessoais. A modernidade - outro tema recorrente - está presente nas chaminés das fábricas e nos eletrodomésticos recém lançados - a televisão, a geladeira, o aspirador de pó -, bem como na invasão de roupas ocidentais, que convivem harmoniosamente com as vestimentas tradicionais. Inúmeras são as cenas em bares e restaurantes típicos onde as mais diversas decisões são tomadas. Mais uma vez, existe o equilíbrio entre as cenas com certa comicidade - ao estilo oriental, portanto muuuuuito sutil - e as dramáticas. O desfecho me partiu o coração, sério (sem spoilers), principalmente porque o roteiro me enganou com sugestões diferentes. O estilo continua sendo 100% Ozu, com suas câmeras fixas, planos médios, atores centralizados, ritmo lentíssimo, cores pastéis e muita discrição e contenção. O elenco também é composto por alguns dos profissionais prediletos de Ozu, começando por Chishu Ryu, Keiji Sada, Sugimura Haruko. Não me lembro da atriz Shima Iwashita em outra obra do diretor, sendo a novidade do elenco, muito bem como Michiko. O cinema de Ozu é extraordinário e muito autoral - não me lembro de nenhum outro diretor que conseguiu fazer obras tão grandiosas com temas tão banais, com histórias tão corriqueiras e minimalistas. A cada filme que eu vejo, eu gosto mais do diretor. É tudo maravilhoso e eu recomendo demais.

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