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hikafigueiredo

“A Teoria Universal”, de Timm Kröger, 2023

Filme do dia (136/2023) – “A Teoria Universal”, de Timm Kröger, 2023 - 1962. O doutorando Johannes Leinert (Jan Bülow) é convidado para um congresso de física que ocorrerá nos Alpes Suíços. No local, é informado de que um cientista que exporia suas teorias inovadoras teve problemas com a imigração e não poderá comparecer. Permanecendo no hotel, Johannes se interessa por uma jovem pianista de jazz, Karin (Olivia Ross). Quando Karin desaparece, Johannes se vê envolvido em um estranho incidente envolvendo a moça e cientistas.





Já faz algum tempo que algumas teorias da física têm sido utilizadas como tema para filmes e séries. A temática recorrente do mutiverso – a ideia de que existem universos múltiplos onde os agentes são os mesmos, mas os acontecimentos diferem entre si – tem feito a alegria do público jovem em obras do gênero aventura e ação, sempre em ritmo aceleradíssimo. “A Teoria Universal” vem se juntar a estes filmes no tema, mas sob uma perspectiva completamente diversa. Sai o ritmo eletrizante e a leveza, entra a sensação de estranhamento e o espanto de quem se vê envolvido em fatos desconhecidos e inexplicáveis. Perde-se, aqui, a sensação de aventura e diversão, e ganha-se em crise existencial e apego profundo a algo que não pertence àquela realidade. Johannes, em um primeiro momento, sente-se confuso com os estranhos acontecimentos que vivencia. Mas, sendo um jovem físico, o personagem consegue transformar suas vivências em teorias sobre o funcionamento do tempo e do espaço – muito embora estas estejam muito à frente de sua época. A história é contada a partir das memórias do protagonista e, assim, tem certo componente subjetivo que envolve, além da estranha realidade, sonhos cheios de significados escusos. A obra, bastante sensorial, é hábil em despertar a angústia do espectador, que percebe a impossibilidade do personagem de ter qualquer controle sobre sua existência a partir do momento em que tantas variáveis se colocam. O público, como Johannes, sente o peso da incerteza e se angustia frente às possibilidades infinitas, fluidas e inconstantes da realidade. Mas, mais que tudo, tanto personagem como espectador, sentem a dor do vislumbre daquilo que inexiste neste universo – mas que existe em algum outro universo inalcançável. Esse lapso espaço-temporal em que o protagonista é lançado terá reflexo por toda a sua miserável vida. O filme se pauta, principalmente, na atmosfera de quase terror que consegue criar, não apenas pelo roteiro, mas, também, por conta de uma fotografia P&B muitíssimo contrastada, com ares de expressionismo alemão – os criativos posicionamentos de câmera são extremamente trabalhados pelo uso de luz e sombra, fazendo recortes de imagem que remetem aos recortes de realidade que o protagonista vivencia. O desenho de produção capricha nos ambientes sombrios e claustrofóbicos, auxiliando na formação de atmosfera. Alguns efeitos visuais vêm se juntar a esses elementos sensoriais, como as paredes de nuvens que se formam e “descem” pelas montanhas como ondas, criando um forte clima onírico. As interpretações foram suficientes para engajar o espectador nesse pesadelo – Jan Bülow consegue apresentar um Johannes inicialmente estupefato que, gradativamente, torna-se a imagem da dor e frustração. Olivia Ross está bem como a intrigante Karin, que tem um quê de femme fatale. No elenco, ainda, Hanns Zischler e Gottfried Breitfuss como dois velhos cientistas. O filme traça um diálogo interessante com os mindfuck “Coherence” (2013) e “Nós” (2019). Eu gostei demais do filme, super pedida da Mostra Internacional de Cinema.

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