Filme do dia (364/2020) - "Abraços Partidos", de Pedro Almodóvar, 2009 - Após uma trágica ocorrência, o ex-diretor de cinema Mateo Blanco (Lluís Homar) assume o pseudônimo de Harry Caine e passa a escrever roteiros para filmes. A morte de um antigo desafeto, fará com que Mateo/Harry precise confrontar seu passado e sua relação com a sedutora Madalena (Penélope Cruz).

Gosto demais da filmografia de Pedro Almodóvar. Eu a acho provocativa, sedutora, irônica e visceral, por vezes divertida, em outras, trágica. Esta obra, em particular, localiza-se no espectro da tragédia, ainda que não perca de vista seu tom provocador, quase pecaminoso. A história gira em torno de um triângulo amoroso, tendo, em um vértice, um homem movido por uma paixão fulminante e, no outro, um homem poderoso obcecado por uma mulher. O triângulo se resolve em um acontecimento trágico, oportunidade em que o protagonista precisa se reinventar e juntar seus pedaços para conseguir seguir a vida. Os personagens da narrativa são marcantes, mas, como de costume na obra do diretor, a força motriz encontra-se na figura feminina de Madalena, uma mulher forte e sedutora que parece nem se dar conta de seu poder. A narrativa é bem não-linear, movendo-se, quase aleatoriamente, pela linha do tempo - de certa forma, o espectador precisa montar o quebra-cabeça de cenas para dar unidade à história. A atmosfera é saudosista, dolorida e melancólica. A história é cativante, sem dúvida, mas, para mim, esse filme tem um porém. O clímax dele se dá bem antes do fim da narrativa, o que gera, na minha visão, um certo problema de ritmo, pois há ainda um longo percurso num movimento anticlimático até o final, não muito agradável e com revelações que não dão em lugar algum. Como todo filme do diretor, a obra abusa de cores quentes, fortes, muito saturadas, com predominância do vermelho. Os enquadramentos são bem convencionais e são comuns os planos fechados nos rostos, principalmente nos rostos femininos. Quanto ao elenco, confesso que Lluís Homar não me seduz, não o vejo com a força ideal para o personagem, que me parece meio embotado (mas é possível que essa fosse a intenção de Almodóvar para contrastar com a figura feminina). Já Penélope Cruz, ao contrário, é um vulcão, trazendo força mais que necessária à personagem. No elenco, ainda, Blamca Portillo como Judite, ótima no papel; José Luis Gomez como Ernesto Martel, também muito bem (o personagem é feito para ser meio asqueroso, uma figura meio maligna, controladora, dominadora, o exemplo de homem-lixo); Tamar Novas como Diego e Rubén Ochandiano como Ray X. O filme é bom, mas muito inferior a outros do diretor, de maneira que eu diria que é uma obra mediana de Almodóvar. Vale a pena? Ah, eu acho que até vale, mas veria antes outros como "Tudo Sobre Minha Mãe" (1999), "Fale com Ela" (2002) ou o recente "Dor e Glória" (2019), dentre outros. De qualquer forma, veja Almodóvar. Sempre.
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