Filme do dia (264/2017) - "Acusados", de Jonathan Kaplan, 1988 - Sarah (Jodie Foster) é uma jovem independente que, certa noite, após brigar com o namorado, vai a um bar conversar com uma amiga e afogar as mágoas no álcool. A certa altura, após flertar com um cliente, Sarah é atacada por vários homens e acaba sendo estuprada nas dependências do bar. Buscando por justiça, Sarah terá de enfrentar todo o sistema judicial norte-americano.
Esta é a melhor obra do mundo para entender o machismo, a misoginia e a chamada "cultura do estupro" e como as mulheres vivenciam, diariamente, tais questões. Apesar de ser vítima de um estupro coletivo, a personagem é questionada, moralmente julgada e desacreditada, sendo-lhe imputada responsabilidade pelo crime. Em outras palavras, a vítima acaba sendo julgada muito mais que os autores - o que se sabe é bem comum em processos desta natureza. Impossível não se indignar com o tratamento dispensado à Sarah em comparação com o dispensado aos autores do estupro e seus incentivadores. O filme é uma verdadeira denúncia à cultura do estupro, retratando-a com requintes de crueldade. A obra é atualíssima e necessária e demonstra o quanto as mulheres são cerceadas por valores impostos que apenas reproduzem interesses machistas e misóginos. Não é uma obra fácil de assistir, em especial para as mulheres - é forte, é pesado, é angustiante e, acima de tudo, é verdadeiro. A cena do estupro de Sarah só perde em impacto e mal estar para a cena do estupro de "Irreversível" (que consegue ser ainda pior). Além do roteiro ousado e cirúrgico, a obra conta, ainda, com a excepcional interpretação de Jodie Foster - Sarah não é frágil, Sarah não se coloca como coitadinha e nem posa de santa e, justamente por isso, é julgada e colocada quase como ré, o que faz qualquer espectador mais consciente e sensível à causa feminista ficar indignado. Além da magnífica Jodie Foster, o filme ainda traz Kelly McGillis como advogada de Sarah - esta é uma personagem meio dúbia, pois, por mais que ela esteja do lado de Sarah, ela ainda guarda julgamentos morais inaceitáveis. O filme é muito, muito bom e precisa ser visto. Recomendo geral.
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