Filme do dia (374/2020) - "Adeus, Lênin!", de Wolfgang Becker, 2003 - Alemanha Oriental, 1989. O jovem Alexander (Daniel Brühl) é preso por participar de manifestações contra o governo. Sua mãe Christiane (Kathrin Sass), muito nacionalista, ao saber disso, sofre um grave enfarto e entra em coma, permanecendo assim por oito meses. Ocorre que, nesse meio tempo, há a queda do Muro de Berlim e a unificação das Alemanhas Ocidental e Oriental. Quando Christiane acorda, Alexander cria uma farsa para que ela pense que tudo permanece igual.

Sucesso absoluto de público, essa comédia dramática discorre sobre aquele momento em que a história acontece diante dos nossos olhos - no caso, a queda do Muro de Berlim, a derrocada dos países socialistas e a reunificação da Alemanha. Ainda que a obre foque, principalmente, no rápido esfacelamento da Alemanha Oriental, ela não poupa críticas a nenhum dos sistemas político-econômicos: se, por um lado, a falta de liberdade e o imobilismo do socialismo é posto em cheque, por outro, aponta-se o consumismo desenfreado, o individualismo e o imediatismo capitalistas como falhas grosseiras e cruéis desse sistema. Na história, a mãe do protagonista não pode passar por nenhuma emoção muito forte sob risco de sofrer um novo e fatal enfarto, o que leva Alexander a criar uma farsa para evitar que a mãe, nacionalista orgulhosa, sofra a decepção de descobrir que sua amada Alemanha Oriental não existe mais e foi "engolida" pelos valores capitalistas. Apesar da história ter uma comicidade evidente, essa é meramente superficial, pois a atmosfera que prevalece é de saudosismo e melancolia por conta de uma promessa de país socialista que jamais se concretizou, exceto nos sonhos dos idealistas - Alexander, assim, tem a chance de criar uma ilusória Alemanha socialista perfeita, exatamente como sua mãe imaginava. A narrativa é linear e o ritmo é moderado. A direção de arte de época é incrível - o filme recria a Alemanha Oriental com seus carros precários, seus figurinos ultrapassados e seus eletrodomésticos despreocupados com design. Quanto às atuações, temos Daniel Brühl como Alexander, bastante bem no papel, Kathrin Sass como a mãe Christiane, perfeita, Chulpan Khamatova como Lara, namorada de Alexander, Maria Simon como Ariane, irmã de Alex, e Florian Lukas como Denis. Mesmo que, durante parte da narrativa, o espectador ache graça da ginástica que Alexander faz para enganar sua mãe, é certo que o filme termina deixando certa amargura, além de um saudosismo daquilo que não aconteceu, uma tristeza latente que acompanha a decepção de ver seus sonhos ruírem. A obra é ótima e emblemática de um momento histórico. Merece ser visto e revisto muitas vezes
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