Filme do dia (193/2018) - "Adorável Julia", de István Szabó, 2004 - Já entrada em anos, a diva do teatro Julia Lambert (Annette Bening) encontra-se cansada e desmotivada. Os galanteios do jovem e ambicioso Tom (Shaun Evans) darão novo frescor à atriz. No entanto, quando Tom demonstra desinteresse por Julia, a diva comprova não estar disposta a deixar-se abater, reafirmando seu talento como atriz.
A obra me pareceu ter sido feita sob medida para que Annette Bening brilhasse e, definitivamente, ela é o grande trunfo do filme. Baseado na obra literária de W. Somerset Maugham, Theatre (1937), o filme discorre sobre os limites entre a arte de interpretar e a vida real - para a personagem Julia, seguindo os conselhos de seu mentor Jimmie Langton (Michael Gambon), o teatro é o único foco, a única realidade, e o chamado "mundo real", apenas um simulacro sem importância. Assim, Julia transita livremente entre o palco e a vida, sem limites claros entre ambos, representando-se a si mesma constantemente, e as falas utilizados no teatro são reaproveitadas nos seus diálogos cotidianos sem qualquer pudor. Mesmo quando tomada por sentimentos mais verdadeiros e pungentes, Julia absorve tais emoções e transforma, tudo, em uma grande e apoteótica atuação. Diva até o último átomo, Julia não permite que a perda do frescor da juventude e o potencial prejuízo decorrente da idade mais avançada ofusquem sua magnitude e vai à luta, agarrando, com unhas e dentes, seu posto de rainha dos palcos. E nenhum terreno é mais fértil e promissor para uma verdadeira atriz do que a vingança sobre aqueles que a subestimaram... Sim, apesar de Julia não ser o que se possa chamar de boazinha, generosa ou modesta, eu ADOREI a personagem, com sua personalidade forte e determinada, e Annette Bening está sensacional como Julia. Pelo papel, a atriz ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia em 2005, bem como foi indicada ao Oscar da categoria no mesmo ano. No elenco, ainda, Jeremy Irons como Michael Gosselyn, marido de Julia (numa interpretação sem brilho, muito aquém do talento do ator) e o fenomenal Michael Gambon como Jimmie Langton, um diretor de teatro decidido a fazer de Julia, em começo de carreira, uma atriz perfeita (este consegue transmitir uma paixão sutil, porém evidente, ao personagem - muito, muito bom!!!!). O filme é muito bom e vale demais pela presença de Annette Bening. Boa pedida.
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