"Albergue Espanhol", de Cédric Klapisch, 2002
- hikafigueiredo
- 17 de out. de 2020
- 2 min de leitura
Filme do dia (400/2020) - "Albergue Espanhol", de Cédric Klapisch, 2002 - Xavier (Romaisn Duris) acaba de se formar em economia. Em busca pelo primeiro emprego, ele é informado que uma pós na Espanha e o domínio do espanhol lhe garantiria um trabalho em uma grande corporação. Decidido a conseguir a vaga, ele parte para um intercâmbio na Catalunha por um ano.

Ai, que filme delicinha!!! A obra trata de inúmeros temas, que vão de rituais de passagem para a vida adulta, amadurecimento, anseios da juventude, companheirismo, amizade, busca pela realização de sonhos, mas ainda passa por identidade cultural, pertencimento, multiculturalismo, empatia, respeito às diferenças, convivência com o outro, e mais uma porrada de assuntos conexos. A narrativa se concentra em Xavier, claro, mas extrapola o personagem através de seus companheiros de apartamento, cada qual originário de um país diferente. Diria que a residência estudantil de Xavier nada mais é do que a representação em pequena escala da União Europeia, com toda a riqueza cultural e atritos que a convivência entre diferentes traz. Claro que, tratando-se de uma comédia dramática, tudo é meio pincelado, nada é tratado com extrema profundidade e o clima geral é leve, ou seja, não se pega pesado com nenhum assunto muito polêmico, mas ainda há, aqui e ali, menções ou "toques" relacionados a homofobia, xenofobia, machismo e preconceitos diversos. A narrativa é não-linear, ainda que transcorra em tempo cronológico durante boa parte de sua duração. O ritmo é ágil, mais marcado que a média dos filmes franceses. Os personagens não são muito aprofundados, com exceção de Xavier, até porque são muitos e muito diferentes, não daria nem tempo de desenvolvê-los demais em apenas duas horas. O roteiro flui gostoso, descontraidamente, despretensiosamente e sem se levar tão a sério, com uma narrativa em off do nosso protagonista. O personagem Xavier passa por aquele momento de fim de juventude, começo da vida adulta onde tudo parece um pouco fora de lugar e muito incerto. Adorei certas brincadeiras do filme, como telas bi ou tripartidas, movimentações aceleradas, triangulações de cenas e diálogos. O filme aproveita demais as belas locações da Catalunha e, para quem nunca foi para lá, acende um certo saudosismo daquilo que não se conhece. Gostei da trilha sonora, encabeçada pela música gostosinha "No Surprises" do Radiohead. O elenco multinacional conta com Romain Duris no papel de Xavier (é um ator que eu gosto bastante desde que assisti "Uma Nova Amiga", 2014), Audrey Tautou como a chatíssima Martine, Cécile de France como Isabelle, Kelly Reilly como Wendy, e mais uma porrada de gente de tudo que é canto da Europa. Destaque para a cena da chegada do namorado de Wendy à cidade. O filme é a primeira parte de uma trilogia, que segue com 'Bonecas Russas" (2005) e 'O Enigma Chinês" (2013). Ah, eu curti muito pela leveza da obra. Recomendo.
Comments