Filme do dia (89/2016) - "Alice no País das Maravilhas", de Jonathan Miller, 1966 - A menina Alice (Anne-Marie Mallik) passeia pelo campo com sua irmã mais velha. As garotas param para descansar, momento em que Alice, sonolenta, percebe uma presença que a levará a uma intrigante jornada.
Esqueçam a Alice sorridente e alegre e seu mundo repleto de cores - nessa adaptação da obra de Lewis Caroll feita pela BBC, a história é ambientada em um lugar soturno, escuro, e tanto Alice, quanto todos os demais personagens, são estranhos e têm uma expressão pesada, sorumbática. O clima geral é de pesadelo, daqueles que não é possível acordar e causam angústia e ansiedade. O roteiro é fragmentado, apesar de abarcar a maior parte da história. A fotografia P&B ajuda a compor certa sensação de irrealidade. Quase todas as cenas possuem grande profundidade de foco e são bastante comuns os planos onde Alice está em primeiríssimo plano e, ao fundo, uma ação se desenvolve. As posições de câmera causam estranhamento e desconforto. A direção de arte e figurinos baseiam-se na Inglaterra Vitoriana, e ajudam a "pesar" o ambiente. A sonoridade divide-se, basicamente, em silêncios incômodos e em uma música de cítara (composta por ninguém menos de Ravi Shankar) que remete a um clima de misticismo e sonho (ou uma viagem lisérgica). O elenco, ótimo, conta com atores renomados como Peter Sellers, John Gielgud e Michael Redgrave, mas, quem para mim roubou a cena foi Peter Cook como o Chapeleiro Maluco - sua expressão facial e a forma "cantada" como fala me fascinaram. A jovem Anne-Marie Mallik também está muito bem com seu olhar absorto e expressão taciturna, parecendo suportar uma grande crise interior e enormes questionamentos. O filme é muito bom e subverte totalmente a imagem de Alice e seu mundo fantástico estabelecida pelas demais adaptações (e, claro, pelo desenho da Disney... rs). Recomendo muitão!
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