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  • hikafigueiredo

“Amaldiçoada”, de Martin Koolhoven, 2016

Filme do dia (47/2023) – “Amaldiçoada”, de Martin Koolhoven, 2016 – Século XIX, oeste norte americano. Liz (Dakota Fanning) é uma jovem parteira que esconde um passado nebuloso e violento. Quando um novo pastor (Guy Pearce) chega à pequena cidade onde Liz vive com sua família, todo o terrível passado dela volta para assombrá-la.





Com uma estrutura bem interessante e um argumento perfeito, o filme tinha tudo para ser excelente, mas, na minha opinião, erra na medida e acaba “passando do ponto”. A obra, um drama pesadíssimo sobre vingança e perseguição, retrata o quanto o binômio religião e patriarcado são perigosos, em qualquer tempo, para as mulheres, tanto para as que se sujeitam quanto para aquelas que se rebelam. Ao longo da narrativa veremos mulheres sendo subjugadas das mais diferentes formas, sempre sob a desculpa da religião ou dos costumes. Ainda que seja realista – nada do que acontece na história é fantástico ou inverossímil -, é certo que é tanto sofrimento no caminho da protagonista que o espectador acaba anestesiado pelo excesso de tragédias e para mesmo de se sensibilizar com a história. Bom, cabe dizer que este não é um filme sensorial – chamo de sensorial os filmes que conversam diretamente com as nossas emoções, que lidam com questões subjetivas, filmes que “sentimos” além da simples compreensão objetiva. Não, “Amaldiçoada” não é um filme sensorial, o espectador o entende através dos acontecimentos, os quais se revelam, a cada segundo, mais hediondos. E esta escalada de violência extrema e dor é tamanha que, ao menos para mim, ultrapassou o limite do aceitável e eu “desliguei os sensores de comoção” e acabei desenvolvendo certa frieza em relação à obra. Ainda assim, entendo que o filme seja bastante perturbador para boa parte dos espectadores pois lida com questões extremamente controversas e moralmente condenáveis como pedofilia, incesto, estupro, violência física e psicológica contra mulheres, sadismo, fanatismo religioso, dentre outros. Se você não quer se deparar com cenas ultrajantes, daquelas que revoltam até as pessoas mais racionais, recomendo que não veja o filme. Gostei demais da estrutura do filme, sua divisão em “capítulos”, organizados de maneira não linear, formando quase um quebra-cabeça em que as peças vão, pouco a pouco, se encaixando – e o quadro, que já não era bonito, vai ficando cada vez mais medonho. O filme, visualmente, é belíssimo e perfeito – o desenho de produção de época é irretocável e a fotografia, bem contrastada, aproveitando muitas vezes a beleza cênica natural e sempre com incrível profundidade de campo (muito bem aproveitada pela narrativa, pois trazendo duas ações se desenvolvendo concomitantemente, uma em primeiro plano e outra, ao fundo), igualmente impressionante. Outros destaque é o elenco, encabeçado pela poderosíssima Dakota Fanning como Liz – a personagem é muda, logo, tudo tem de ser expresso apenas com os olhos e a linguagem corporal, e ela faz isso de uma maneira incrível. Mas não é só Dakota que arrebenta na interpretação. Guy Pearce está odioso como o demoníaco reverendo, um dos personagens mais detestáveis que já vi em um filme e a interpretação do ator está excelente. Ainda mais incrível é o olhar de Emilia Jones no papel de Joanna – não conhecia a atriz, ela é fabulosa!!!! Também destaco o trabalho sutil e bem contido de Carice van Houten como Anna, personagem essa que é a maior expressão de sofrimento acatado. No elenco, ainda, Paul Anderson como Frank, Kit Harington como Samuel, William Houston como Eli. Enfim... um filme com muitas virtudes, mas que eu achei que pesou a mão e isso acabou por estragar um pouco a experiência. Em todo caso, quem gosta de drama pesado vai curtir.

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