Filme do dia (152/2017) - "Amor à Flor da Pele", de Wong Kar-Wai, 2000 - Hong Kong, década de 1960. O Sr. Chow (Tony Leung) acaba de se mudar com a esposa para um quarto alugado. No mesmo dia, mas na casa vizinha, a Sra. Chan (Maggie Cheung) também acaba de se mudar, na companhia do marido. Tanto o Sr. Chow quanto a Sra. Chan são extremamente solitários, uma vez que suas caras-metades estão sempre em viagens de negócio ou trabalhando. Ocorre que, um dia, os dois se dão conta que seus respectivos são amantes, nascendo, assim, uma forte ligação entre ambos.
O filme trata, basicamente, do amor e do desejos não realizados. Ainda que os personagens centrais transbordem paixão um pelo outro e mesmo existindo uma forte intimidade afetiva entre ambos, optam por não se igualarem aos seus pares. A obra constrói com delicadeza a formação do desejo e do companheirismo do casal - é um filme intrinsicamente sexy e sedutor, apesar de tudo ser muito implícito e sugerido. As muitas cenas sugestivas em câmera lenta, assim como os planos próximos de detalhes - uma mão, um olhar - fazem essa construção da relação com habilidade, mas o uso frequente do subterfúgio me fez ter a sensação, por vezes, de que estava vendo uma grande propaganda dos perfumes da Chanel. A despeito desse pequeno exagero, o filme é ótimo e conta com uma fotografia belíssima, bem como uma direção de arte esmerada. Cabe ressaltar o figurino estonteante da Sra. Chan - Maggie Cheung parece uma versão chinesa de Audrey Hepburn, tal sua elegância e sofisticação. O elenco está ótimo em suas interpretações - Maggie Cheung (que eu já conhecia por "Clean") faz uma Sra. Chan contida na ação, mas cujos olhares e linguagem corporal são reveladores; já Tony Leung (que eu também já conhecia de "Desejo e Perigo") como Sr. Chow é menos sutil, mas cumpre muito bem seu papel. O filme revela muito falando e mostrando pouco, é excelente e eu adorei. Recomendadíssimo.
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