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hikafigueiredo

"Anticristo", de Lars Von Trier, 2009

Filme do dia (177/2021) - "Anticristo", de Lars Von Trier, 2009 - Após a morte de seu filho pequeno, a mãe da criança (Charlotte Gainsbourg) entra em depressão profunda, corroída pela culpa de não ter evitado a morte do filho. O pai (Willem Dafoe), psicólogo, resolve ajudá-la através de terapia. Juntos, eles se isolam em uma cabana no meio de uma floresta, local por eles denominado de Éden.





Provavelmente o mais simbólico, difícil e doloroso filme de Lars Von Trier, a obra exige grande esforço de interpretação por parte do espectador que, não bastasse sofrer com as cenas quase explícitas de dor, ainda sofre para dar significado às imagens que se sucedem. Okay, o filme ainda pode ser vivenciado pelo aspecto emocional, pois trata-se de uma obra profundamente sensorial, onde o público "sente" a história, mas, ainda assim, existe a necessidade de organizar as ideias. Os temas tratados na narrativa são culpa, medo, sofrimento e redenção, mas, acima de tudo, a natureza humana, segundo a visão do diretor, intrinsicamente má - pois será através de um retorno à condição humana mais primitiva, bestial e maligna que a personagem irá conseguir lidar com aquela dor e com a culpa que lhe atravessa a alma. O filme traz, ainda, uma série de simbolismos ligados às religiões, principalmente à cristã (como a ideia dos três mendigos, fortemente relacionada à imagem dos três reis magos, só que às avessas). Por fim, temos diversas dicotomias na narrativa - o racional, na figura do marido, contrapondo-se ao emocional, na figura da mulher; a inocência, na figura da criança, contrapondo-se à maldade redentora que se estabelecerá junto à mãe; o Paraíso, como a natureza física, contrapondo-se ao Inferno da natureza humana. O ritmo é moderado, aumentando à medida que nos aproximamos do fim. A atmosfera é muito pesada, sombria, angustiante, perturbadora e claustrofóbica. Há inúmeras cenas pesadas - de sexo quase explícito a mutilação -, as quais tornam a obra excepcionalmente inquietante - existe uma enorme chance do espectador terminar o filme bem mal. Visualmente o filme é maravilhoso, com destaque para as cenas iniciais em P&B e câmera lenta. A pouca trilha sonora é formada por música clássica e instrumental. As interpretações de Dafoe e Gainsbourg são viscerais, em uma entrega total corajosa e incomum - imagino que não deve ter sido fácil para nenhum deles se expor daquele tanto. Destaques para a cena inicial, para a cena do sexo na árvore, para a cena do gozo (o início do inferno propriamente dito), para a cena da mutilação da mulher e a para a cena final. O filme é tão metafórico que dedicado a ninguém menos que Andrei Tarkovsky. Eu dei rapidamente uma pincelada em algumas simbologias porque é impossível esgotá-las em pouco espaço e eu nem sei se conseguiria dar conta de tudo, pois a cada vez que revejo o filme, novos significados encontro aqui e ali. Ainda que perturbador, o filme é incrível e eu o adoro (como quase tudo do diretor). Recomendo fortemente.

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