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  • hikafigueiredo

"Asas do Desejo", de Wim Wenders, 1987

Filme do dia (213/2021) - "Asas do Desejo", de Wim Wenders, 1987 - Dois anjos - Damiel (Bruno Ganz) e Cassiel (Otto Sander) - vagam pela cidade de Berlim ouvindo os mais recônditos pensamentos dos mortais e lhes oferecendo conforto para suas dores e dúvidas. Damiel, paulatinamente, passa a questionar sua condição de anjo, desejoso de se unir aos mortais. Ao conhecer e acompanhar a trapezista Marion (Solveig Dommartin), Damiel toma a sua decisão.





Provavelmente a obra mais badalada do diretor Wim Wenders, o filme é uma divagação sobre a condição humana, retratando a angústia, a solidão, os medos e desejos dos seres humanos. A obra é profundamente sensorial e absolutamente intimista - cerca de 3/4 da história resumem-se nas elucubrações de homens e mulheres acerca de suas vidas, erráticos como são os pensamentos e devaneios humanos, e nos olhares de amor e compaixão dos anjos que os acompanham em suas jornadas diárias. É uma obra para ser mais sentida do que compreendida racionalmente. Há um tom onírico e fantástico em toda a narrativa, inclusive nos trechos onde se acompanha o ponto de vista dos mortais. O roteiro, assinado pelo próprio diretor, é sensível e muito bem desenvolvido, não deixando arestas por resolver. Os pouquíssimos diálogos são compensados pelo sem-fim de monólogos representando as divagações dos seres mortais (reconheço que alguns dizeres são muito poéticos, enquanto outros são quase herméticos). Apesar da história discorrer sobre um plano espiritual onde anjos existiriam desde sempre, o filme não tem qualquer mensagem religiosa ou apelo divino. Formalmente, o filme é um deslumbre e minuciosamente construído. O plano angelical seria desprovido de cores, emoções ou sensações e, justamente por isso, preto-e-branco no filme, enquanto que o plano humano é sensorial, motivo pelo qual recebe cores bem saturadas e contrastadas. A fotografia, além de alternar P&B e cor, também é bastante criativa quanto a enquadramentos e movimentos de câmera - temos trechos com planos bem convencionais e outros com enquadramentos mais ousados e sofisticados; temos muitos planos com câmera parada intercalados de outros com câmera em movimento; temos planos abertíssimos e outros de detalhe. A obra é essencialmente silenciosa: praticamente inexiste trilha sonora, com exceção das músicas diegéticas das cenas do circo e dos shows de Nick Cave. O ritmo é lentíssimo, quase hipnótico, o que pode causar certo relaxamento, levando o espectador menos habituado a abraçar Morpheu bem rapidamente. Do elenco, destaque para o trabalho do excepcional Bruno Ganz como Damiel, o anjo inebriado pela banal e mundana vida mortal. Destaque também merece Peter Falk interpretando-se a si mesmo e assumindo uma condição surpreendente (sem spoilers). A obra conta com uma continuação no filme "Tão Longe, Tão Perto" (1993). Wim Wenders foi agraciado com o prêmio de Melhor Direção em Cannes em 1987. Eu gosto demais desse filme, muito embora ele seja muito mais agradável visto na tela grande. Recomendo muito!!!!

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