Filme do dia (244/2021) - "Ata-me", de Pedro Almodóvar, 1989 - Rick (Antonio Banderas) é um jovem de 23 anos, recém saído de um hospital psiquiátrico. Sem qualquer posse ou laço, Ricky rapta a atriz Marina (Victoria Abril), por quem é apaixonado, na esperança de fazê-la apaixonar-se por ele.

Chega a ser difícil determinar o gênero deste filme - com elementos de drama, romance e comédia, a obra não se encaixa completamente em qualquer deles. A história acompanha a tentativa desajeitada de Rick em fazer com que a atriz Marina repare nele e por ele se apaixone, tal qual ele é apaixonado por ela. Sem nada a perder, Ricky sequestra Marina para que ela o conheça melhor e, assim, ele tenha a chance de ser alvo de seu afeto. Aqui chegamos, com perdão pelo trocadilho involuntário, ao "nó" do filme - ainda que o filme seja simpático e, a certa altura, o espectador até torça pelo final feliz, é certo que a história atropela qualquer ideia de relação consentida, o que, por si só, é um desserviço às mulheres, sempre sob a mira do machismo da sociedade. Entendo que essa questão era muito pouco discutida nos idos de 1989, o que torna esse aparte um pouco anacrônico, mas, não deixa de ser algo que mereça ser pontuado, uma vez que o público feminino atual talvez não veja a história com a mesma condescendência das mulheres daquele tempo. Por isso, apesar de gostar do filme, achar o desfecho feliz, até romântico, sinto, no fundinho d'alma, que eu não deveria ter qualquer simpatia por ele (e eu tenho... julguem-me com razão). A narrativa é linear, em ritmo marcado. A atmosfera está entre o romântico e o "caliente" - as cenas de amor de Marina e Ricky seriam suficientes para incendiar uma casa!!! A obra, aliás, é tipicamente almodovariana - além da intensidade, do fogo, da impulsividade contumazes dos personagens do diretor, temos os exageros, a dramaticidade exagerada, tudo é muito Almodóvar!!! Da mesma maneira, é a estética da obra: tudo muito colorido, as cores sempre muito saturadas, muito contrastadas, o exagero da ação dos personagens alcança o visual do filme. Quanto aos intérpretes, aqui temos mais uma participação de Antonio Bandeiras, talvez o maior "queridinho" do diretor, como Ricky - e eu admito que, por mais errado Ricky esteja em sequestrar Marina, eu não consigo deixar de gostar do personagem...; no papel de Marina, Victoria Abril, que viria, a partir de então, a tomar o lugar de Carmen Maura como atriz recorrente na filmografia do diretor; Loles Leon interpreta Lola, a irmã de Marina; e Francisco Rabal, o personagem Máximo; claro que temos a participação de Rossy de Palma, outra presença constante nos filmes de Almodóvar. A obra tem bem a chancela do diretor e, tirando a questão já levantada sobre consentimento, o que pode incomodar, é um filme leve e de fácil "degustação". Como gosto muito do estilo do diretor - dos exageros às provocações - eu curto a obra, como quase tudo dele, e por isso recomendo para quem quiser conhecer melhor sua filmografia.
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