Filme do dia (174/2020) - "Através das Oliveiras", de Abbas Kiarostami, 1994 - Uma equipe de cinema chega a uma lugarejo ermo que sofreu, há pouco tempo, um enorme terremoto. Dentre os moradores do local, Hossein (Hossein Rezai) e Tahereh (Tahereh Ladanian) são escolhidos como protagonistas do filme que será filmado ali. No entanto, a paixão de Hossein por Tahereh interfere no andamento das filmagens.

Apaixonada por este filme desde quando o assisti no cinema, na época de seu lançamento (é, sou véia rs), esperei muitos anos para que ele fosse lançado em DVD. O filme é um maravilhoso exercício de metalinguagem. A obra, também, brinca com a realidade e a ficção e, em muitos momentos, não sabemos o que é o quê. Para mim, é um dos melhores filmes metalinguísticos que já foi feito, perdendo só para "A Noite Americana" (1973). Mas enquanto Truffaut faz uma homenagem à indústria do cinema, Kiarostami homenageia o "fazer cinema", o cinema autoral, aquele coisa quase "artesanal", pé no barro, com recursos escassos, mas com criatividade de sobra. Mas não paramos por aí... a vida que extrapola o filme também é parte da discussão, pois a relação que existe entre Hossein e Tahereh vai além daquilo que está sendo filmado. A obra é bem menos simples do que parece, ela possibilita inúmeras discussões acerca da vida e de sua representação. A fotografia do filme mescla momentos em que parece um documentário (ou talvez, um "making off"), com outros mais tradicionais referentes ao filme que está sendo rodado na história. Os enquadramentos são bem simples, não há movimentos de câmera e tampouco posicionamentos de câmera rebuscados. Sabe a lógica do menos é mais? Temos isso aqui. Praticamente não há trilha sonora ao longo do filme, mas, quando há, ela até muda a significância da cena (vide a cena final). Aliás... a cena final... para mim, a melhor que me lembro de ter visto na vida!!! Sem entrar em spoilers, é um longo plano geral com câmera fixa, onde Hossein corre atrás de Tehereh para lhe fazer uma pergunta. Lá pelas tantas, ambos são duas formiguinhas na tela... mas é incrível como a gente sabe qual foi a resposta... Há, na cena, algo de extremamente voyeurístico. Quanto às interpretações - ambos os intérpretes são, realmente, gente do vilarejo, então não existe uma interpretação trabalhada, uma construção dos personagens e tals. Mas, na simplicidade deles, eles passam um sentimento tão cru que a gente jura que tudo é real, eles nos convencem daquela história!!!! Eu sou suspeitésima para falar da obra, porque sou louca por ela. Mas, para quem curte cinema autoral, eu garanto que o filme é um colosso. Recomendo demais!!!!
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