Filme do dia (430/2020) - "Ausência", de Chico Teixeira, 2014 - Após seu pai abandonar a família, Serginho (Matheus Fagundes), de quatorze anos, vê-se responsável pela casa, tendo de cuidar da mãe alcóolatra e o do irmãozinho mais novo. Sem outros vínculos afetivos, Serginho aproxima-se de um professor (Irandhir Santos), buscando nele o esteio ausente em sua vida.
Esta bela obra de Chico Teixeira é completamente conduzida pelo intimismo. Acompanhando o protagonista, tomamos contato com sua solidão, sua necessidade de afeto e sua falta de estrutura emocional para lidar com tantas questões do mundo adulto. Serginho é a imagem do abandono: incompreendido por todos que o rodeiam, traído por aqueles em quem depositou afeto e a cada instante mais sozinho no mundo, o personagem busca, sofregamente, ainda que em silêncio, algum acolhimento por parte daquelas pessoas com quem convive. O filme é extremamente hábil em envolver o espectador no profundo vazio do protagonista, mas vou avisando: é uma experiência cinematográfica que exige comprometimento por parte do público, pois só se completa ao seu término, isto é, essas emoções todas que eu descrevi vieram a mim vagarosamente e eu precisei chegar ao último segundo de filme para contatar todo esse universo de sensações (inclusive, lá pelo meio do filme eu me incomodei por ter a impressão de não acontecer nada até então; pois acontece poucas coisas mesmo, o importante é se deixar levar pelo sensorial e entrar em contato com o mundo interior do personagem). Assumo que terminei o filme de coração partido, há uma tristeza intrínseca à obra. A narrativa é completamente linear, o ritmo, muito lento - lentíssimo - e a atmosfera é bastante depressiva. Achei que o jovem ator Matheus Fagundes segurou bem a onda, conseguindo transmitir o peso existente em seu interior. O mesmo não digo de Gilda Nomacce, que entregou uma interpretação bastante irregular como a mãe do menino. Irandhir Santos, que interpreta o professor Ney, para variar, está fabuloso (sim, eu sou fã de carteirinha dele e ainda não vi um filme onde ele não estivesse perfeito!!!!!). O filme é extremamente sensível e me tocou profundamente. Gostei muito, mas recomendo apenas para quem curte uma experiência cinematográfica suave, intimista e autoral. Se seu "barato" é ritmo, barulho e efeitos especiais, nem passe perto.
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