Filme do dia (216/2016) - "Azzylo Muito Louco", de Nelson Pereira dos Santos, 1970 - Brasil Colônia. Após a fuga do antigo sacerdote, padre Simão chega à Vila de Serafim decidido a cuidar das almas dos moradores da vila. Acumulando a atividade do sacerdócio com a medicina, padre Simão decide construir um hospício no local. Ocorre que, após a inauguração do manicômio, o padre passa a creditar loucura a todos os habitantes do lugar, lotando rapidamente o hospício.
Nessa livre adaptação do conto "O Alienista" de Machado de Assis, Nelson Pereira dos Santos leva para a tela não apenas uma crítica à ciência e à medicina (presentes na obra original), mas, também uma crítica, por vezes sutil, por outras nem tanto, à estrutura da sociedade brasileira e, mais especificamente, ao momento político em que o país se encontrava naquela época (anos 70 - ditadura militar). A obra, claramente alegórica, chega a dialogar com outra tão simbólica quanto, o filme "Terra em Transe", de Glauber Rocha. Boa parte dos diálogos são dúbios e referem-se tanto à ficção narrada quanto à realidade vivenciada pelo diretor, podendo, o espectador, permanecer na superfície e aproveitar a adaptação do conto, ou, se preferir, mergulhar na crítica a ela associada. Justamente por ser uma alegoria, não é dos filmes mais fáceis de assistir e absorver. Visualmente, é um filme muito colorido e vistoso, com uma direção de arte exótica e um figurino... bem... quase carnavalesco (rs). A ambientação foi feita em Paraty e, ao menos para mim, foi meio chocante o contraste daquele espaço de época com tanta cor e roupa espalhafatosa. Uma coisa que me incomodou bastante foi a sonoridade da obra - de um lado, uma qualidade de áudio péssima, que muitas vezes dificultava a compreensão do texto; por outro, uma trilha sonora dissonante, com algo que eu não ouso chamar de música, porque para mim era só um monte de barulho desconexo e cujo objetivo eu não captei (talvez uma aproximação do Cinema Marginal, que propositalmente causava desconforto e, até mesmo, repulsa, ao público, mas não sei ao certo, é apenas uma conjectura). Quanto às interpretações, Nildo Parente deu vida ao padre Simão, e Isabel Ribeiro interpretou - muito bem, por sinal - a personagem D. Evarista. Destaque para a belíssima e controversa Leila Diniz como Eudóxia. Admito que, num primeiro momento, o filme me deu um sono danado, mas, depois de um cochilo, consegui engatar e terminar de assisti-lo de boa. É um filme ótimo, riquíssimo em significados, mas para ser assistido num bom dia ou não vai rolar. Só recomendo para quem estiver realmente com disposição.
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