top of page

"Baal", de Volker Schlöndorff, 1970

  • hikafigueiredo
  • 29 de out. de 2021
  • 2 min de leitura

Filme do dia (318/2021) - "Baal", de Volker Schlöndorff, 1970 - Baal (Rainer Werner Fassbinder) é um poeta anárquico e maldito que vaga por estradas, bares e florestas declamando seus poemas e envolvendo-se com mulheres, homens e muita bebida. Desprezado pela sociedade, ele vive com liberdade seu prazer, sem sentir qualquer responsabilidade ou culpa.





Baseado na peça homônima de Bertold Brecht, o filme acompanha o vagar do anti-herói Baal, um poeta maldito que existe em função de seu prazer e de sua arte, afastando-se de qualquer ideal de correção, responsabilidade ou patriotismo, tão em voga na época em que a peça foi escrita (1918-1920, época da Primeira Guerra Mundial). O personagem é a encarnação da passionalidade. Rude, visceral, egoísta, brutal, ele trata com desdém as mulheres que seduz com seu talento para a poesia. Bissexual, apaixona-se pelo amigo Ekart, mostrando-se ciumento e possessivo para com o amante. Baal é desagradável e muitas vezes deposita sua visão abominável das coisas em sua poesia, que se torna, pontualmente, repulsiva, ainda que sedutora. O jeito abjeto de ser de Baal, associado à sua facilidade para a poesia, transformam o personagem em uma figura instigante, fascinando a todos que o rodeiam, como se observassem um feio acidente, sem conseguir desviar o olhar da cena medonha. Baal é, antes de tudo perverso e abusivo, sendo quase incompreensível o poder que exerce sobre os demais personagens. A narrativa, pautada na peça teatral, é formada por cenas com pouca ou nenhuma conexão entre si, quase esquetes independentes. O texto, alicerçado nas poesias de Baal, também é desconexo, delirante, muitas vezes completamente solto dos acontecimentos, que seguem à parte dos poemas declamados. O ritmo é errático, por vezes muito lento, outras marcado, sem qualquer definição. A atmosfera é maldita, uma aura nefasta pesa sobre a obra por completo. Formalmente, o filme é muito autoral, com uma linguagem criativa que se afasta bastante do convencional. A fotografia colorida, pouco saturada ("lavada"), é granulada e com pouca definição. Muitas vezes com as bordas desfocadas, a fotografia privilegia pequenos planos-sequência, sendo econômicos os cortes. A câmera na mão, em eterno movimento, é oscilante, aproximando-se e afastando-se do objeto como se numa valsa, muitas vezes dando a sensação de embriaguez e desequilíbrio - muito condizente com o personagem, bêbado contumaz. Quase inexiste trilha sonora no filme - o silêncio é constante e incômodo, pesando, cena após cena. A linguagem da obra aproxima-se da utilizada no movimento Dogma 95, causando o mesmo tipo de estranhamento e mal-estar no espectador. O protagonista é interpretado pelo cineasta Rainer-Werner Fassbinder, que se sai muitíssimo bem, principalmente se considerarmos que ele é um cineasta e não um ator profissional - Fassbinder consegue transmitir toda a natureza nefanda do personagem, não apenas através do texto, mas, também, por sua linguagem corporal; no papel de Sophie, Margarethe von Trotta, outra cineasta de renome, importantíssima dentro do novo cinema alemão, igualmente bem na personagem; Sigi Graue interpreta Ekart, o amante de Baal e único personagem a exercer algum poder sobre o poeta. Gostei demais do filme, em especial por ser tão ousado e autoral. Curti muito e recomendo (na minha opinião, o filme mais interessante do box "Novo Cinema Alemão" da Versátil).

 
 
 

Comments


bottom of page