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hikafigueiredo

"Babel", de Alejandro Gonzalez Iñarritu, 2006

Filme do dia (304/2021) - "Babel", de Alejandro Gonzalez Iñarritu, 2006 - Durante uma viagem ao interior do Marrocos, a turista Susan (Cate Blanchet) é atingida por um tiro de fuzil disparado do alto de uma montanha por um jovem criador de cabras, desencadeando uma série de consequências.





Três lugares ao redor do mundo. Histórias entrelaçadas relacionadas a pessoas sem qualquer contato entre si. A obra discorre sobre equívocos de comunicação, interpretação ou conduta que desaguam em consequências mais ou menos trágicas para a vida de pessoas aleatórias, que têm, em comum, apenas sua condição humana. No Marrocos, as crianças Ahmed e Youssef recebem um fuzil do pai para que espantem os chacais que rondam a criação de cabras da família; perto dali, o casal de turistas Susan e Richard tentam uma reaproximação após a morte prematura do filho caçula; nos EUA, a imigrante mexicana Amélia cuida dos filhos do casal americano enquanto eles estão no Marrocos, mas seu pensamento permanece no casamento do filho, no México, que se aproxima; no Japão, a jovem surda-muda Chieko sofre a ausência da mãe, recém falecida, e pela dificuldade em se relacionar com os meninos de sua idade. Ainda que sentimentos de perda, dor ou inadequação sejam comuns a todos, a comunicação é truncada e, as consequências para os envolvidos, diversas, sendo muito mais drásticas para alguns do que para outros - o tratamento dispensado aos personagens dos países desenvolvidos (EUA e Japão) são de natureza completamente diferente daquele dispensado aos personagens dos países pobres (Marrocos e México). A narrativa é não-linear - o que parece ocorrer simultaneamente, na realidade, acontece em momentos diversos, ficando, a cargo do espectador, construir a correta temporariedade dos acontecimentos. O ritmo é bastante flutuante - cenas muito lentas se sucedem a outras bastante marcadas, alternando-se mutuamente. A atmosfera é, majoritariamente, de apreensão, tensão e angústia, diferindo ligeiramente entre os "blocos" e as cenas. Tecnicamente, o filme é um deslumbre. O trabalho de edição é impecável e consegue manter a linha narrativa apesar dos diferentes núcleos de personagens. A fotografia, belíssima, sabe explorar as particularidades dos muitos ambientes, funcionando igualmente bem das montanhas do Marrocos às luzes da cidade de Tokyo. Da mesma forma, a trilha sonora explora as diversas sonoridades advindas dos mais díspares locais do mundo e, costurando tudo, uma música de violão suave e melancólica - o filme foi agraciado com o Oscar de Melhor Trilha Sonora naquele ano. O elenco, multinacional, traz Brad Pitt, Cate Blanchet e Gael Garcia Bernal como chamarizes, logicamente todos muito bem em seus papeis. Mas, a interpretação que salta aos olhos é a de Adriana Barraza, que interpreta a empregada doméstica Amélia e que tem a difícil tarefa de transmitir desde a máxima alegria ao pior dos sofrimentos - e ela não só faz isso como faz muito bem, tanto que foi indicada tanto para o Globo de Ouro quanto para o Oscar na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante. Outro destaque é a jovem Rinko Kikuchi como a adolescente Chieko, um poço de contradições e dramas interiores, maravilhosamente encenada pela atriz. A obra concorreu à Palma de Ouro (2006) e ao Oscar de Melhor Filme (2007), sendo agraciado com o Globo de Ouro de Melhor Filme Dramático no ano seguinte (2007). Iñarritu, por sua vez, recebeu o prêmio de Melhor Direção em Cannes (2006) e sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Direção, abrindo caminho para suas nomeações ao Oscar posteriores por "Birdman" (2015) e "O Regresso" (2016). Apesar de não ser meu trabalho predileto do diretor (eu prefiro "Amores Brutos", 2000, e "21 Gramas", 2003), ainda assim eu o acho um filmaço, que vale muito a pena a visita. Recomendo.

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