- hikafigueiredo
“Barbie”, de Greta Gerwig, 2023
Filme do dia (79/2023) – “Barbie”, de Greta Gerwig, 2023 – No mundo de Barbieland, Barbies e Kens vivem em perfeita harmonia. Certo dia, uma Barbie “estereotipada” (Margot Robbie) percebe estranhos comportamentos nela própria e descobre que ela está sendo influenciada por alguém do mundo real, local para onde é enviada pela Barbie “estranha” (Kate McKinnon) para resolver seus problemas, sendo acompanhada por um Ken (Ryan Gosling) na sua jornada.

O filme, que virou verdadeira obsessão mundial e está quebrando recordes de bilheteria, tem despertado a paixão de alguns e a ira de outros. Primeiríssima informação: não é filme para crianças ou, tampouco, pré-adolescentes. Os temas tratados na obra são eminentemente adultos e versam, sobretudo, sobre o universo feminino e o capitalismo. De uma forma divertida e até mesmo debochada, a diretora discorre sobre o patriarcado, a dominação masculina, a absurda pressão que recai sobre as mulheres, os julgamentos que as calam, as exigências que lhes são impostas, a sororidade, a maternidade e suas dificuldades, a objetificação da mulher, o vínculo que existe entre o capitalismo e o patriarcado, a transformação de tudo em mercadoria dentro da lógica capitalista, o assédio sexual, as consequências do patriarcado para mulheres e homens, as diferenças entre um mundo pautado nos homens e outro sob a ótica feminina, isso só para mencionar os temas principais. É uma obra com uma incrível riqueza de questões, mas que consegue tratá-las com extrema leveza, a despeito de sua importância e de seu peso para a sociedade, em especial, as mulheres. Definitivamente é um filme feminino (e feminista), o que não poderia ser diferente, já que de autoria da sensacional diretora Greta Gerwig, sabidamente voltada para os assuntos que se referem às mulheres. Lógico que um filme que escancara o patriarcado, discute a condição da mulher e debocha do universo masculino iria despertar a indignação de grupos conservadores e religiosos – o que, para mim, é sinal claro de que Greta Gerwig está no caminho certo e foi perfeita na forma de tratar todas estas questões. A narrativa é linear, em ritmo muito intenso. A atmosfera é bem-humorada, debochada, divertida e muito irônica. Apesar de panfletário – não dá para não falar que não é diante do discurso “soco no estômago” da personagem Gloria que, ainda que pontual, certeiro como uma flecha e emocionante, parece saído de um palanque -, o filme consegue transmitir suas ideias de um jeito muito leve, graças à espessa camada de humor que o envolve – eu perdi o fôlego de rir em algumas passagens. A cena inicial da obra que nos remete às primeiras cenas de “2001 – Uma Odisseia no Espaço” é simplesmente hilária (e brilhante). O filme é acompanhado por uma narração em off, igualmente debochada, na voz da maravilhosa Helen Mirren. A estética do filme é fantástica – óbvio que tudo em Barbieland se refere ao mundo da boneca em tamanho gigante e é uma grande explosão de cores, glitter e muito cor-de-rosa!!! A fotografia colorida é sempre muito saturada, clara e brilhante – tratando-se da Barbie, não poderia ser diferente! O elenco também está primoroso – não poderia haver atriz melhor para interpretar a “Barbie estereotipada” do que Margot Robbie, ela é linda e perfeita demais!!! A atriz conseguiu imprimir um humor certeiro na personagem e terminei o filme apaixonada por sua “Barbie”; Ryan Gosling não fica atrás e seu Ken é responsável pela maior parte das minhas gargalhadas dentro da sala do cinema – se eu já adorava o ator, agora apaixonei de vez, até por ele ter aceitado fazer o personagem do jeito que ele é (sem spoilers); Michael Cera interpreta o personagem Alan, outra super sacada do filme; America Ferrera interpreta a personagem Gloria, autora do já mencionado discurso perfeito; adorei Kate McKinnon como a “Barbie estranha” e quem já foi criança na vida vai “reconhecê-la” (rs); Will Ferrel interpreta o presidente da empresa Mattel – incrível que a empresa tenha topado esse filme!!!! Existe, ainda, um elenco gigante de Barbies e Kens, todos divertidíssimos, mas não vou mencionar um a um ou isso ficará gigante demais. Eu ADOREI o filme, me senti mega representada pelo discurso de Gloria e me regozijei com o tanto que a diretora espezinhou o universo masculino e os homens. Tudo que eu tenho a dizer é: Valeu, Greta!!!!! Recomendo muito!