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"Beijos Proibidos", de François Truffaut, 1968

hikafigueiredo

Filme do dia (24/2021) - "Beijos Proibidos", de François Truffaut, 1968 - Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud) tem vinte e quatro anos e acaba de ser expulso do exército. Enquanto busca um emprego, ronda Christine (Claude Jade), a jovem por quem está apaixonado.





Retomando o personagem Antoine Doinel de "Os Incompreendidos" (1959), alter-ego do diretor, Truffaut joga seu olhar para a juventude francesa daquele período, marcado pela insatisfação e rebeldia. Doinel revela-se instável em todos os aspectos de sua vida, do afetivo ao profissional. Pulando de emprego em emprego, Doinel demonstra completa inabilidade para lidar com autoridades e regras, experimentando, na plena liberdade, sua verdadeira vocação e felicidade, infelizmente impedidas de se completarem e se manterem pelas exigências da sobrevivência. Da mesma forma, Doinel apaixona-se e desapaixona-se com a mesma volatilidade, o que não o impede de sentir, com profunda intensidade, cada um de seus efêmeros amores. A narrativa acompanha um tanto do cotidiano do personagem, mostrando-se errática tal qual a vida de Doinel - existe, ao longo da narrativa, uma energia, um frenesi, só explicáveis pela inquietação do personagem que, por sua vez, representa a inquietação de toda a juventude francesa naqueles idos de maio de 1968, época de manifestações e agitações sociais, rompimento com o passado e busca por liberdade e justiça social. Cabe mencionar que todo esse desvario juvenil da época é transmitido ao espectador pela atmosfera e pela movimentação de Doinel, pois nada é diretamente mencionado ou retratado no filme nesse sentido (manifestações ou o que quer que seja). É uma obra bastante sensorial, onde o espectador sente esses novos ares. Jean-Pierre Léaud continua no papel que já vivera em "Os Incompreendidos" (e que voltaria a vivenciar posteriormente) e novamente assume, integralmente, o personagem. Nem saberia dizer o porquê, mas destaco a cena em que ele repete incessantemente seu nome em frente a um espelho - aquela repetição me deixou angustiada, não consigo interpretar o que senti, mas foi bastante forte. Destacaria, também, a interpretação de Delphine Seyrig como Senhora Tabard, descrita por um Doinel tomado pela paixão como "uma aparição" - e atriz conseguiu absorver isso extraordinariamente bem. A obra foi indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Truffaut, como outros mestres do cinema como Bergman e Kurosawa, tinha o dom de fazer obras de arte e não apenas filmes, pois estes transmitiam emoções e sensações muito além de seus conteúdos. Sou fã, admito, e, como tal, recomendo visceralmente essa obra (e todas as demais do diretor).

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