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  • hikafigueiredo

"Bela Vingança", de Emerald Fennell, 2020

Filme do dia (164/2021) - "Bela Vingança", de Emerald Fennell, 2020 - Cassie (Carey Mulligan) é uma mulher traumatizada por um episódio de violência sexual cometido contra sua melhor amiga. Disposta a vingar, não apenas sua amiga, mas todas as mulheres, Cassie leva um vida dupla, ensinando "pequenas" lições a homens aleatórios. Um encontro com Ryan (Bo Burnham), um antigo colega, poderá mudar o rumo da vida de Cassie.





A obra é um aviso. Um aviso para que as mulheres se cuidem, a si próprias e umas às outras, e um aviso de que nós não suportamos mais as atitudes machistas e inconsequentes dos homens. A protagonista Cassie chegou ao seu limite e colocou como objetivo de vida "ensinar" - da pior maneira possível - como os homens não devem tratar as mulheres. O filme é cirúrgico em apontar como a cultura do estupro está entranhada na sociedade e como muitos homens dispõem dos corpos femininos sem qualquer cerimônia e respeito. Mas o que eu achei mais interessante no filme é como ele retrata os homens quando em grupo - homens, em bando, agem para impressionar seus pares e tomam atitudes machistas para se afirmarem perante os seus e mesmo os homens mais "legais", avessos a qualquer violência são, via de regra, incapazes de enfrentar seus iguais em defesa de uma mulher que não lhes seja conhecida. Em outras palavras - homens em grupo são, por questões culturais, naturalmente predadores. O filme trata, ainda, de sororidade e também da ausência de comprometimento de algumas mulheres para com as outras - porque o machismo e a cultura do estupro não atingem apenas homens, não; mulheres podem ser tão influenciadas quanto homens por conceitos misóginos e machistas e, assim, culpar e apontar dedo para as vítimas das piores violências, arranjando as mais diversas justificativas para tanto. O filme, enfim, trata de temas caros para as mulheres e que seriam bem interessantes para serem discutidos com os homens. A obra tem algumas passagens um pouco previsíveis, mas o desfecho chegou a me surpreender. A narrativa é linear em ritmo intenso. A atmosfera é tensa, mas tem lá seus momentos românticos. Há, ainda, um certo cinismo, uma certa acidez que acompanha o filme, sempre por conta da protagonista Cassie. O filme é muito colorido, com cores muito saturadas e vibrantes. Gostei muito da trilha sonora da obra, com algumas versões diferentes para músicas de sucesso como "It's Raining Men" e "Toxic" (descobri, também, que a trilha sonora é quase inteiramente assinada por compositoras e intérpretes do sexo feminino, com uma única exceção na versão instrumental de "Toxic", de Britney Spears). Mas, o verdadeiro ponto alto do filme está na interpretação poderosa de Carey Mulligan como Cassie, uma personagem forte, decidida, cínica, muito diferente das personagens frágeis e doces que atriz vinha interpretando - como em "Não Me Abandone Jamais" (2010), "Shame" (2011), "Drive" (2011), dentre outros. No elenco, também, Bo Burnham como Ryan, Alison Brie como Madison, Laverne Cox como Gail e Alfred Molina como Jordan. A obra tem algumas fragilidades, mas confesso que ele me pegou de jeito e fiquei bem focada nele, muito por conta da ótima Carey Mulligan, de quem sempre fui fã. A obra foi agraciada pelo prêmio do Critics' Choice Award nas categorias Melhor Roteiro Original e Melhor Atriz; ganhou o BAFTA por Melhor Filme Britânico e também por Melhor Roteiro Original; e está concorrendo ao Oscar nas categorias Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original, Melhor Atriz e Melhor Montagem. Recomendo bastante.

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