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hikafigueiredo

"Biutiful", de Alejandro González Iñárritu, 2010

Filme do dia (109/2022) - "Biutiful", de Alejandro González Iñárritu, 2010 - Uxbal (Javier Bardem) é um homem que ganha a vida com pequenas contravenções - ele faz a mediação entre produtores de mercadorias piratas e imigrantes que vendem os produtos, ao mesmo tempo em que suborna policiais para que estes não perturbem as vendas. Separado e com a guarda de dois filhos pequenos, ele descobre, subitamente, que está com uma doença fatal. Antes de partir, no entanto, Uxbal tentará deixar tudo encaminhado para a sua ausência.





Deixando para trás os filmes de múltiplas histórias entrelaçadas - caso de "Amores Brutos" (2000), "21 gramas" (2003) e "Babel" (2006) - Iñárritu concentra sua atenção na história única e trágica de Uxbal. Descobrindo que tem pouquíssimo tempo de vida, Uxbal preocupa-se em deixar as coisas minimamente em ordem para a sua partida. Ocorre que a vida do protagonista está um caos e ele terá dificuldades em colocá-la nos trilhos. Sua maior preocupação é quanto à segurança de seus filhos, já que Marambra, a mãe deles, sofre de uma grave condição psiquiátrica e sequer dá conta de si mesma, que dirá dos filhos. A obra, triste que só, discorre, basicamente, sobre a nossa finitude, a solidão da partida e a falta de controle que temos de nossas próprias vidas. O filme retrata a existência humana como um grande torvelinho onde as coisas acontecem sem muita lógica e sobre o qual não temos qualquer controle. Nesse sentido, os esforços de Uxbal para ajeitar tudo para a sua partida mostram-se inúteis, muito embora ele não perca uma chance de demonstrar seu afeto pelos filhos e de buscar uma segurança para eles. Saliente-se, ainda, que o protagonista tem forte ligação com o mundo espiritual, conseguindo contatar-se com os recém-falecidos, aplacando suas angústias ao transmitir, aos vivos, mensagens norteadoras. Como assunto transverso, temos a questão dos imigrantes ilegais na Europa e como sua situação os coloca à mercê de condições abusivas e desumanas. A narrativa é circular, em um ritmo pausado, que esmiuça o solitário caminho de Uxbal ao ocaso. A atmosfera é, na maior parte do tempo, de angústia e agonia, ainda que Uxbal não tente lutar contra o inevitável e aceite, com resignação, seu destino. A fotografia colorida é escura e sem brilho, como que refletindo o estado emocional do personagem, e se concentra nos planos médios e próximos, dando certa sensação de enclausuramento. A trilha musical aproveita o som de um violão choroso para pontuar alguns momentos mais dramáticos, seguindo o hábito hollywoodiano de "manipular" o espectador, mas com uma sutileza infinitamente maior do que o que vemos no cinema norte-americano. Um grande, enorme, gigantesco mérito da obra está no trabalho irretocável de Javier Bardem como Uxbal - o ator consegue carregar o personagem de uma contida dor (física e emocional) que carrega ao longo de todo o filme e sua lenta metamorfose devida à sua doença consegue ser impressionante; outra que está muito bem na obra é Maricel Álvarez, que interpreta a inconstante Marambra, personagem que sofre de transtorno bipolar e, assim, alterna diferentes estados de humor. No elenco, ainda, Diaryatou Daff como Ige, Hanaa Bouchaib como Ana, Eduard Fernandez como Tito e Ana Wagener como Bea. Javier Bardem recebeu o Prêmio de Melhor Ator em Cannes (2010), além de ser indicado ao Oscar (2011) e ao BAFTA (2011), na mesma categoria; o filme, por sua vez, concorreu ao Oscar, ao BAFTA e ao Globo de Ouro (2011) de Melhor Filmes Estrangeiro, ainda que não tenha levado nenhum deles. A obra é incrível, muito boa, mas não deve ser vista em um dia "ruim", porque vai te deprimir ainda mais. Recomendo demais.

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