Filme do dia (130/2022) - "Bom Dia, Vietnã", de Barry Levinson, 1987 - Saigon, 1965. O cabo Adrian Cronauer (Robin Williams) é trazido para o Vietnã para trabalhar como radialista do exército norte-americano, graças ao seu sucesso junto aos soldados. Seu jeito irreverente faz com que ele, rapidamente, entre em choque com seu superior imediato, o Sargento Dickerson (J. T. Walsh) e o leva a conhecer a tímida Trihn (Chintara Sukapatana) e seu irmão Tuan (Tung Thanh Tran), dois jovens vietnamitas.
Assisti a essa obra pouco depois de seu lançamento no cinema e, muito por conta da irreverência de Robin Williams e da ótima trilha sonora, lembro de ter gostado bastante do filme. A revisita trinta anos depois, no entanto, serviu apenas para me deixar chocada. A realidade é que o filme é, antes de tudo, datado - mas datado DEMAIS!!!! Quase tudo na história, que, na década de 80, era completamente normalizado, hoje, em 2022, é alvo da mais absoluta reprovação. Vamos começar pelo posicionamento político do filme, que se assume ser o mesmo do protagonista: a obra é completamente "chapa branca". Lembrando que, em 1987, já tínhamos críticas ferozes à invasão norte-americana ao Vietnã para "lutar pela liberdade de seu povo", tais como os ótimos "Apocalipse Now" (1979), "Platoon" (1986) e "Nascido para Matar" (1987), o filme é totalmente condescendente com o exército norte-americano e "passa o pano" não apenas para as ações dos soldados, mas, também, para a presença indiscutivelmente abusiva e absurda dos EUA naquele país do outro lado do planeta. Chegamos ao ponto de ouvir o protagonista falar que os soldados estavam no Vietnã para "ajudar o povo vietnamita" - ah, tá, Cláudia. Para não dizer que o filme não faz nenhuma mínima menção à carnificina promovida pelo exército norte-americano naquele país, há um único discurso, bem pequeno por sinal, de um jovem vietnamita contra a presença e ação dos soldados no Vietnã - para mim, foi o único momento iluminado e emocionante da obra. Mas os problemas não se limitam à questão política do filme. Muito, muitíssimo pior, são as condutas do protagonista - em tese, o "mocinho" da trama. Começa que suas "piadas" na rádio (e fora dela) são racistas, xenófobas, machistas e homofóbicas, coisas que eram (erroneamente) aceitar em 1987, mas, hoje, pelo menos para quem é civilizado e não um total homem das cavernas, é escandaloso!!! A cada nova "piadinha" na história, eu tinha mais vergonha alheia e me afundava mais no colchão da minha cama, quase pedindo perdão de, um dia, ter aceito tamanhas barbaridades. Mas acredite... dá para piorar... O contato do protagonista com a jovem Trihn (uma menina que, ao menos aparentemente, devia ter uns dezessete anos) nada mais é do que ASSÉDIO - ou como vocês chamam um homem (que deveria ter bem mais de trinta anos) que insiste em falar com uma mulher desconhecida na rua ao ponto de persegui-la até dentro de sua classe de aula??? Eu fiquei extremamente incomodada com essa cena, ainda mais que é perceptível que há uma tentativa de mostrar a conduta como "romântica" - romântica para quem, cara-pálida???? Para nenhuma mulher, com certeza. Enfim, o que vemos no filme é um rosário de machismo, racismo, xenofobia e homofobia - um horror!!!! E, para coroar tudo... nada, absolutamente nada, do que o personagem diz é engraçado, mesmo o que passa a largo do preconceito. Gente... então não salva nada? Ah... a trilha sonora continua muito boa, trazendo The Beach Boys, James Brown, Louis Armstrong e outros grupos e intérpretes menos conhecidos, mas todos muito bons. Ah... mas até na apresentação das músicas há o maneirismo insistente de tocá-las enquanto mostram cenas de fragmentos da vida e da guerra no Vietnã : isso poderia não ser problema se tivesse acontecido uma vez, mas repetiram o "movimento" bem umas quatro vezes e na última eu já estava achando a ideia toda sofrível. O elenco traz Robin Williams num papel quase odioso - e para mim é bem difícil admitir isso, porque tenho profunda simpatia pelo ator. Seu Adrian Cronauer é um completo sem-noção e mesmo em alguns momentos em que ele tenta burlar a censura dentro da rádio, ele pisa na bola, fazendo piadinhas sexistas e sem graça. Temos, no elenco, um jovem Forrest Whitaker, que nem de longe mostra seu potencial e talento. A pobre Chintara Sukapatana tem de fazer carinha de frágil e bobinha o filme todo - argh, meu feminismo saiu dando twist carpado de raiva. Quem se saiu melhor foi Tung Thanh Tran, que faz o único discurso "tapa na cara" da história. Já ficou bem claro que eu detestei o review, né??? Para quem já viu e gostou, fica com a sua memória afetiva. Quem não viu, só veja se estiver muito a fim de passar raiva, sério. Não recomendo nem amarrada.
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