Filme do dia (158/2022) - "Bonecas Russas", de Cédric Klapisch, 2005 - Cinco anos após sua experiência em Barcelona, Xavier (Romain Duris) transforma-se em um ghost writer e escreve roteiros para péssimos filmes românticos. Ele mantém algum contato com Martine (Audrey Tautou) e com seus colegas de albergue e pensa em escrever um pouco sobre a sua história e sobre suas desventuras amorosas.

Continuação do delicioso “O Albergue Espanhol” (2002), o filme mantém parte da pegada da obra inicial e discorre sobre relacionamentos afetivos e amorosos, envolvendo, principalmente, os mesmos personagens da primeira história (mas não só). O protagonista, agora, prestes a completar trinta anos, continua se envolvendo com muitas mulheres e colocando os pés pelas mãos na maior parte de seus relacionamentos, muitas vezes sem qualquer responsabilidade afetiva e sofrendo as consequências de suas atitudes. Da mesma maneira, outros personagens de “O Albergue Espanhol” transitam pela obra, cada um com suas novas (ou velhas) questões a serem resolvidas. Apesar das muitas idas e vindas vivenciadas pelos personagens, a obra é bastante romântica, muito mais do que o filme inicial. Ainda temos, mas com menor evidência, questões como identidade cultural, multiculturalismo, pertencimento, reconhecimento de diferenças e alteridade, concentradas principalmente nas sequências da Rússia. Aqui adentramos um pouco no terreno de temas como solidão, idealização do amor romântico, relações líquidas e relacionamentos abusivos e, ainda que em alguns momentos a narrativa fique um pouco mais tensa, a obra mantém a leveza geral do filme que a antecede. A narrativa é não linear, indo em voltando na linha do tempo. O ritmo é bem marcado e constante. A atmosfera é agradável, aconchegante e romântica, tornando a obra toda gostosinha. Como no filme anterior, temos diversas brincadeiras relacionadas à linguagem cinematográfica, como telas multipartidas e as direções do trem que indicam, reiteradamente, se Xavier está indo ou voltando da Inglaterra. Confesso que passei boa parte do filme torcendo por um casal (sem spoilers). A trilha musical do filme é delicada e sensível, com destaque para a música “Mysteries” de Beth Gibbons (conhecida como a vocalista da banda Portishead). O elenco traz de volta o ótimo trabalho de Romain Duris como Xavier, um personagem repleto de contradições e dúvidas; Audrey Tautou dá vida novamente à chatíssima Martine (eu acho o trabalho da atriz um tanro quanto irregular e aqui, digamos que ela não está em sua melhor forma); Cécile de France interpreta a amiga lésbica Isabelle, tão bem em seu trabalho que recebeu o César (2006) de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel; a inglesa Kelly Reilly interpreta a doce Wendy, ótima na personagem, tanto que também concorreu ao César de Melhor Atriz Coadjuvante na ocasião; Kevin Bishop interpreta William e Evguenia Obraztsova, Natacha. Filme delicinha, cheio de gatilhos para carentes e românticos (rs), vale a pena assistir. Curiosa para o terceiro filme da trilogia “O Enigma Chinês” (2013).
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