Filme do dia (68/2019) - "Border", de Ali Abbasi, 2018 - Tina (Eva Melander) é uma agente policial que trabalha no aeroporto, fiscalizando as bagagens. Ela possui um estranho dom de "farejar" possíveis contraventores. Certo dia, Tina "fareja" algo de errado com um passageiro, mas não consegue comprovar qualquer irregularidade nas suas malas ou conduta. Aos poucos, ela se aproxima deste passageiro, de nome Vore (Eero Millonov), o qual lhe revelará uma terrível verdade sobre suas origens.
Não se engane. O filme sugere um drama daqueles de rasgar o coração - mas ele não é. Não que não tenha um forte componente dramático - ah, isso ele tem - mas ele termina com grande leveza e, acima de tudo, muita fantasia. Porque a obra é, antes de qualquer coisa, um filme do gênero fantasia, discorrendo sobre figuras lendárias e fantásticas. Para além da história, o filme fala um pouco das diferenças, do "ser diferente", de como a sociedade te absorve e como você se coloca no mundo ao ser "diferente". Tina crê possuir uma síndrome genética, uma estranha mutação em seus genes que faz com que ele tenha uma aparência nada comum, beirando o que poderia ser chamado de monstruoso. Apesar disso, Tina trabalha, tem um relacionamento amoroso com Roland (Jörgen Thorsson) e amigos na vizinhança em que mora. Ainda assim,Tina sempre soube o que é ser vítima de preconceito e injúrias das mais diversas. Vore possui uma aparência bastante parecida com a de Tina, mas coloca-se de uma forma totalmente diferente no mundo. Ir além me obrigaria a soltar spoilers, o que não me permito fazer. O filme é sensível, trata toda a questão de Tina com delicadeza e em momento algum resvala para o grotesco (e o filme teria grande capacidade para isso). Por outro lado, não espere um filme fácil - ele é estranho, exige empatia e a capacidade de ver-se pelos olhos do outro. Também exige certa "abertura" no que tange à aceitação à pluralidade sexual e de gênero. A obra possui uma fotografia belíssima, que aproveita muito bem as locações naturais - são lagos, cachoeiras e muitas florestas ao longo da história. O filme, ainda, concorreu ao Oscar na categoria Maquiagem e, na minha humilde opinião, deveria ter ganhado, pois não deve ter sido fácil criar a aparência de Tina e Vore sem parecer extremamente "fake". O filme não seria o mesmo sem a interpretação sensível e sutil de Eva Melander, que faz uma Tina doce, delicada e cheia de bons princípios. O filme é diferente, mas muito, muito bom! Adorei!
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