Filme do dia (185/2018) - "Boyhood: da Infância à Juventude", de Richard Linklater, 2014 - Mason (Ellar Coltrane) é um menino de seis anos que vive com a mãe Olivia (Patricia Arquette) e a irmã Samantha (Lorelei Linklater), após a separação de seus pais. Durante doze anos, acompanharemos a vida dessa família.
Esse é o típico filme controverso. Escutei dezenas de pessoas dizendo que o filme não chegava a lugar nenhum, era maçante, não dizia a que veio. Não compartilho dessa opinião e assumo que simplesmente amei a obra. Durante o período de doze anos, foram pinçados momentos da história daquelas pessoas. Mas não momentos cruciais, especiais, apoteóticos. Não, ganharam destaque momentos comuns, situações corriqueiras, que, na sua simplicidade, poderiam "passar batido" no cotidiano daquelas pessoas, mas, que se analisados com cuidado, diziam muito sobre aqueles indivíduos, aquela família e as relações paulatinamente construídas entre seus membros. Daqueles parcos momentos, pudemos ver a situação de sobrecarga de Olivia, a mãe, com excesso de trabalho, assumindo sozinha a responsabilidade por seus filhos, vivendo a típica condição de mulher só com filhos, trabalhando, estudando, criando os filhos, tentando tocar sua própria vida, tendo de resolver relações amorosas abusivas, uma coisa meio "assobia e chupa cana fazendo malabares de fogo sobre um monociclo". Em contraposição a essa mãe ultra sobrecarregada, temos o pai, vivido por Ethan Hawke, irresponsável, egoísta, pagando de pai bacana, enchendo os filhos de presentes e junk food, mas sem assumir sua parte na responsabilidade de criar e manter a prole. Temos, ao longo da narrativa, outros personagens tão comuns na vida real: o homem alcoólatra e abusivo, o marido autoritário e controlador, os amigos machistas, as amigas acolhedoras e empáticas. O que é bacana na obra é que ela é tãããão real, ela está tão próxima de qualquer espectador que é impossível não se ver em algum personagem ou situação ao longo da história. Quanto à crítica de que o filme não chega a lugar algum e não diz a que veio, a obra mostra justamente que a vida é isso, uma sequência de acontecimentos que levam à construção de relações humanas, um fluxo contínuo de ... vida, de perdas e ganhos, de derrotas e vitórias, de alegrias e tristezas, incessante e que as contingências da vida tem a dimensão que nós damos a elas (o que é retumbante para uma pessoa, pode ser um cisco para outra, ou inexistente se levarmos em conta a humanidade como um todo). Mas qual o sentido de tudo isso? Ora, e QUEM disse que tem que haver um sentido, uma razão, um ponto de chegada, qualquer que seja ele???? E a obra também deixa evidente essa visão de que não há uma lógica por trás dos acontecimentos, apenas "há". Poxa... quer narrativa mais filosófica e profunda que isso???? E o pessoal reclama que o filme não diz nada???? Pelamor, vai... rs. Quanto à forma, achei interessantíssimo e ousadíssimo a opção por fazer uma produção por doze anos - DOZE ANOS!!!! Incrível ver a modificação do elenco. Admiro a coragem de Ethan Hawke e, ainda mais, de Patrícia Arquette de se exporem como fizeram, assumindo seu envelhecimento, suas mudanças físicas - admirável!!!! Nos quesitos técnicos, o que mais me chamou a atenção foi a trilha sonora maravilhosa, aproveitando lindamente a evolução da música pop ao longo do período (a entrada da obra tocando "Yellow", do Coldplay foi arrepiante!!!!). Quanto às interpretações, bacana ver as criancinhas virando jovens adultos e melhorando suas performances!!! Mas foi realmente Patricia Arquette e Ethan Hawke que deram show - Patricia, inclusive, recebeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo papel. O filme é incrível e nem suas quase três horas de duração me incomodaram. Recomendo com muito amor envolvido!!!!
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