Filme do dia (71/2020) - "Bróder", de Jeferson De, 2010 - Macu (Caio Blat), Jaiminho (Jonathan Haagensen) e Pibe (Sílvio Guindane) cresceram juntos nas "quebradas" do Capão Redondo. Já adultos, cada um seguiu um caminho: Jaiminho virou jogador de futebol, Pibe, um trabalhador pai de família, e Macu flerta com a criminalidade. No dia do aniversário de Macu, os três se encontram para festejar, mas nenhum deles sairá igual deste encontro.
Eu, com certa frequência, não gosto do cinema nacional produzido no sudeste. Costumeiramente, acho os temas trabalhados fúteis, desinteressantes ou "burgueses" demais para o meu gosto. Há, exceções, claro, e aqui está uma delas. A obra retrata um pouco da realidade dos bairros periféricos da cidade de São Paulo, dentre os quais o Capão Redondo, um dos mais violentos e desassistidos da capital. O filme foca na população vulnerável deste bairro, usualmente à margem do estado, pegando três exemplos possíveis de destino para aqueles que vivem sem quase nenhuma perspectiva de futuro: o indivíduo que rala o mês inteiro, mas, ainda assim, mal sobrevive de seu salário, na figura de Pibe; aquele que é cooptado pelo crime, na pele de Macu; e aquele que, num lance de sorte, é "descoberto" por algum talento inato (normalmente o futebol) e sai do bairro diretamente para uma vida de luxo e excessos, como Jaiminho. Ainda que tais destinos possam ser considerados um pouco cliché, ainda assim são a realidade para muita gente. Outros personagens dão mostras de outros desígnios - a população que é convertida às religiões evangélicas; as moças que engravidam cedo; as jovens que são levadas à prostituição, todas essas possibilidades bastante factíveis para o povo carente de quase tudo. A obra, ainda, mostra um lado solidário dessa população vulnerável - as dificuldades, muitas vezes, aproximam as pessoas, criando vínculos que, muitas vezes, não são encontrados entre pessoas de outras classes sociais. A amizade dos três rapazes, pois, é talvez o ponto nevrálgico do filme - ainda que entrem em conflito, chegando até às vias de fato, o vínculo é mais forte que qualquer desavença. Apesar da temática muito interessante e de ser uma obra muito bem feita, achei que o filme tem umas cenas meio mortas, completamente dispensáveis, que poderiam ser facilmente retiradas, pois nem trazem elementos para a narrativa, nem servem de momento de introspecção (o que, por exemplo, ocorre muito no cinema oriental) - a cena dos pais de Macu dançando, a câmera que passeia pela cena da feijoada, pura encheção de linguiça. Apesar disto, o saldo é bem positivo. Tecnicamente, o filme é extremamente bem feito - roteiro, fotografia, direção de arte e som, tudo bastante bem feito. Destaque para a trilha sonora com sambinhas e rap, bastante pertinente. Quanto às interpretações, é lógico que Caio Blat, um ator completíssimo e bastante versátil, está excepcional como "mano da quebrada" - você jura que ele viveu a vida inteira em algum bairro de periferia (daí a gente se lembra de seu papel em "Batismo de Sangue" , onde interpretou o Frei Tito, e se dá conta do talento desse ator, incrível); Na mesma esteira seguem as interpretações de Jonathan Haagensen e Silvio Guindane, ambos muito convincentes em seus personagens. Por outro lado, não consigo ver Cássia Kiss como uma mãe de família pobretona, sorry - sua interpretação está ótima, mas ela tem um refinamento natural que não condiz com a personagem; no elenco, ainda, Ailton Graça, Zezé Motta, Cíntia Rosa, Lidi Lisboa e João Acaiabe. Olha... o filme me surpreendeu positivamente e, mesmo não sendo nenhuma obra de arte excepcional, é um bom trabalho do diretor. Gostei e recomendo.
Comments