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hikafigueiredo

“Bravura Indômita”, de Ethan e Joel Cohen, 2010

Filme do dia (29/2023) – “Bravura Indômita”, de Ethan e Joel Cohen, 2010 – Arkansas, 1878. A jovem Mattie Ross (Hailee Steinfeld), de 14 anos, está decidida a vingar o assassinato recente de seu pai pelo fora-da-lei Tom Chaney (Josh Brolin). Para tanto, ela contrata os serviços do xerife federal Rooster Cogburn (Jeff Bridges), um homem amargo, com o pé no alcoolismo, mas com fama de mortalmente eficiente na caçada a marginais. A dupla determinada entrará em conflito com o “Texas Ranger” LaBoeuf (Matt Damon), que também está na região com o intento de capturar Chaney pelo assassinato de um senador texano. Por vezes juntos, por outras separados, o trio entrará em terreno selvagem atrás do fora-da-lei.





Refilmagem do filme homônimo de 1969, de Henry Hathaway, a obra não faz feio mesmo sendo assombrado pelo original, considerado um dos grandes westerns do passado. O desenvolvimento da trama é consistente, seguro e segue a tradição dos antigos westerns de enfrentamento entre os “mocinhos” e os vilões – ainda que o protagonista Cogburn esteja longe de ser um personagem naturalmente virtuoso. Para mim, o grande charme da obra está na construção dos personagens e de como se estrutura as relações entre eles, em especial a relação entre Cogburn e Mattie, ambos notáveis “ossos duros de roer” – Mattie caracteriza-se por ser teimosa como uma mula empacada, determinada, objetiva, inteligente e sedutora (não no sentido sexual da coisa, mas pela incrível capacidade de convencer seus opositores a fazerem as coisas do jeito que ela quer); já Cogburn é um beberrão mal humorado, aparentemente insensível, mas que, no fundo, é capaz de atitudes grandiosas e heroicas, e tão teimoso quanto sua jovem companheira de viagem. Os dois personagens secos e totalmente “badass” vão estabelecer uma relação profunda de respeito e quase amizade que dispensa demonstrações de afeto ou maiores sensibilidades. Também é bacana a oposição entre os personagens Cogburn e LaBouef, pois, enquanto o primeiro é evidentemente decadente e já despojado de muitas de suas antigas supostas virtudes, o último é orgulhoso de sua condição de “ranger” e preocupado em honrar sua classe e seus princípios. A narrativa é linear, e conta com um epílogo mais afastado no tempo que traz certa “doçura” à obra. O ritmo é pouco marcado e quase constante, exceto no clímax, onde ganha alguma agilidade (quando comparado ao restante do filme). A atmosfera é seca, árida, muito por conta do ambiente desértico, mas muito mais pelas relações estabelecidas entre os personagens, que são um reflexo do próprio ambiente e onde não há espaço para qualquer afetuosidade. Tecnicamente é um filme perfeito, coisa contumaz nas obras dos irmãos Cohen, com destaque para belíssima fotografia quase inteiramente feita de externas, que aproveita muito bem a ambientação do deserto e suas cores alaranjadas através de planos gerais magníficos. O elenco, por sua vez, dá show, tendo como destaque Jeff Bridges como Rooster Cogburn, papel que rendeu o Oscar de Melhor Ator a John Wayne no original de 1969, bem como O Globo de Ouro na mesma categoria (ambos 1970). Jeff Bridges interpreta com perfeição aquele homem já desacreditado de si, que vê, naquela missão, um último lampejo de possibilidade de heroísmo e honradez. No papel de Mattie, uma surpreendente Hailee Steinfeld, que consegue trazer toda a dureza da personagem, que esconde a sete chaves qualquer fraqueza que possa existir naquele corpo (se é que existe). Hailee expõe expressões faciais discretas e contidas, evitando qualquer exagero, o que seria completamente incompatível com a personagem. Como LaBoeuf, Matt Damon – é... para mim Matt Damon é um ator tão constante que parece que está eternamente no mesmo personagem. Não que ele seja ruim... ele só não é bom.... e muito menos versátil (pode parecer que eu não gosto do ator... pior que gosto, só não o acho um ator completo). Como Tom Chaney, Josh Brolin, sem muito espaço para demonstrar talento (pouco tempo em cena). No elenco, ainda, Barry Pepper, Domhnall Gleeson e Paul Rae. O filme é tão bom que foi indicado ao Oscar (2011) em dez categorias, bem como ao Bafta (2011) e ao Critics’ Choice Award em outras tantas, muito embora não tenha sido agraciado com prêmios. Eu gostei demais e agora quero ver o original. Recomendo.

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