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“Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças”, de Michel Gondry, 2004

hikafigueiredo

Filme do dia (39/2023) – “Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças”, de Michel Gondry, 2004 – Joel Barrish (Jim Carrey) é um homem com uma vida monótona e sem emoções que, um dia, estranhamente sem razão, resolve faltar ao trabalho e ir para a cidade de Montauk. No trem, ele conhece uma jovem muito expansiva, de nome Clementine (Kate Winslet), com quem acaba passando o dia. O que ele não sabe é que há muito mais por detrás deste encontro não tão casual.





Foi a partir de mais um dos incríveis e maravilhosos roteiros de Charlie Kaufman que o diretor Michel Gondry realizou este icônico filme sobre o amor e os relacionamentos. Eu, que normalmente detesto filmes românticos por achá-los melosos e piegas, confesso que sou apaixonada por essa obra, justamente por ela mostrar o amor romântico por um ângulo diferente, o qual acolhe, com carinho, os maus momentos, os defeitos e o lado menos cor-de-rosa dos relacionamentos – afinal, inexistem relações de afeto que não perpassem por momentos sombrios ou, ao menos, “complicados”. Tudo começa por um dia anormal na vida de Joel – ele subitamente tem o inexplicável desejo de ir para uma cidade próxima de Nova York, local onde vive, em meio ao inverno. No trem, ele conhece Clementine, uma jovem de cabelos coloridos e comportamento excêntrico, por quem logo Joel se sente estranhamente atraído. Clementine parece corresponder o interesse e eles acabam passando o dia juntos, numa singular intimidade. A partir daí, o roteiro fantástico e mirabolante – mas absolutamente irretocável – de Charlie Kaufman começa a ganhar forma e o espectador é jogado em um vórtex de acontecimentos surpreendentes. Na realidade, o filme equilibra bem o romance, a comédia dramática e a ficção científica, uma vez que o fio condutor da história é um procedimento que permite que as pessoas “esqueçam” acontecimentos ruins e dolorosos de suas vidas – vou parar por aqui para não mergulhar de cabeça nos spoilers. No entanto, aviso desde já que o espectador pode sentir-se em um terreno pouco sólido ao longo da narrativa, muito embora, no final, tudo se encaixe perfeitamente e faça sentido sem qualquer sinal de desajuste. A narrativa é não linear, em um ritmo intenso e crescente. Aliás, a montagem do filme é mais um dos pontos altos da obra, pois consegue estabelecer, com habilidade, diferentes esferas de acontecimentos sem que o espectador se perca nos, digamos assim, “espaços” (não posso revelar que “espaços” são para não dar spoiler e estragar a experiência do filme). A atmosfera transita entre a angústia e o romance de uma forma bem... curiosa e original. Além do roteiro excepcional e da montagem estupenda, o filme conta com uma fotografia afiada – gosto do primeiro momento dela, antes dos créditos, cheia de “câmeras na mão” que proporcionam certo estranhamento ao espectador, pois sentimos um certo inebriamento, uma sensação de sonho, algo que só se explica após o fim do filme. Depois dos créditos iniciais, a fotografia fica um pouco mais convencional, mas, aqui e ali, temos toques diferenciais, como nos momentos em que assumimos o ponto de vista dos personagens. O desenho de produção, além de muito correto, dá diversas “pistas” para o espectador (que só se dará conta disso lá no final da história ou em uma revisita). E temos as ótimas interpretações de Jim Carey em um momento “sério” (prefiro o ator quando ele não traz nenhum humor físico, caso deste filme) – ele consegue transmitir muito pontualmente os vários estágios emocionais do protagonista sem perder o “foco” em nenhum momento; Kate Winslet – que nunca errou na vida – interpreta maravilhosamente a impulsiva e exótica Clementine, uma personagem complexa e cheia de “meandros”; e o que dizer do elenco de apoio? Temos Mark Ruffalo, Kirsten Dunst, Elijah Wood e Tom Wilkinson, só intérpretes “fera”, todos ótimos em seus papeis. O filme concorreu ao Oscar (2005) de Melhor Atriz para Kate Winslet e foi agraciado com o Oscar de Melhor Roteiro Original para Charlie Kaufman; concorreu a inúmeros prêmios no BAFTA (2005), vencendo os de Melhor Montagem e Melhor Roteiro Original; e, também, concorreu em várias categorias no Globo de Ouro (2005), muito embora não tenha recebido nenhum prêmio nesta premiação. Bom... sou suspeitíssima para falar da obra, com certeza um dos filmes que eu considero mais românticos de todos os que eu já vi. É uma obra original, criativa e muitíssimo bem engendrada. Filme obrigatório, amo para valer!!!!

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