Filme do dia (259/2021) - "Cabaret", de Bob Fosse, 1972 - Berlim, 1931. A cantora norte-americana Sally Bowlles (Liz Minnelli) apresenta-se no cabaret Kit Kat Club, local onde se envolve com vários homens. Seu sonho é receber um convite para trabalhar no cinema, mas acaba se apaixonando por Brian (Michael York), um desimportante professor de inglês. Ocorre que Sally passa a ser cortejada por Maximilian (Helmut Griem), um rico e poderoso nobre alemão, envolvendo Brian em um arriscado triângulo amoroso.
Baseado no homônimo musical da Broadway, de autoria de John Van Druten, o filme acompanha um pequeno fragmento da vida da personagem Sally, uma cantora e dançarina norte-americana radicada em Berlim, que ganha a vida se apresentando em um obscuro cabaret na capital alemã. Tendo como pano de fundo a ascensão do nazismo na Alemanha, a narrativa foca na carreira profissional estagnada e nas desastrosas relações interpessoais de Sally. Os diversos números musicais - quase todos diegéticos, ou seja, inseridos na dimensão ficcional da narrativa e, no caso, parte das apresentações do clube noturno - têm relação direta com algum acontecimento da trama, servindo como fio condutor crítico da história. Evidente que as questões envolvendo a ascensão do nazismo têm absoluta relevância na história e, aqui e ali, ficam em primeiro plano na narrativa - como, por exemplo, na cena em que um jovem militante do partido nazista canta em um restaurante e, paulatinamente, vai angariando simpatizantes que se unem a ele na cantoria. Vale a pena uma leitura acurada das entrelinhas, em especial no papel que o poderio econômico teve na subida ao poder do nazismo (nesse sentido, convém observar as falas do personagem Maximilian). A narrativa é linear e o ritmo moderado e envolvente. A atmosfera é de excitação - uma excitação contínua que parte da personagem Sally, mas que também encontra eco no nascente nacionalismo da população alemã, extremamente deslumbrada com o discurso nazista. O roteiro é amarradíssimo, costurando, com esmero, as cenas da vida de Sally, os números musicais e o fundo político. Tecnicamente, o filme foi um deslumbre em 1972 - e continua sendo. Visualmente muitíssimo colorido, com uma fotografia bastante saturada e uma direção de arte de época primorosa, o filme fez arrastão no Oscar do ano seguinte, levando os principais prêmios técnicos (Melhores Fotografia, Direção de Arte, Edição e Mixagem de Som). A trilha sonora levou parte dos números musicais da Broadway para as telas, mas também deixou de lado alguns trechos, que foram substituídos por outras músicas e cenas musicais - a obra também foi agraciada com o Oscar de Melhor Trilha Sonora. O elenco mostrou-se afiadíssimo, contando com Liza Minnelli no papel de Sally, uma personagem caótica, que cobre suas dores com uma carapaça de ânimo e alegria, muitíssimo bem interpretada pela atriz; Michael York interpreta Brian, um personagem mais pé-no-chão, quase uma antítese de Sally - eu gosto muito do ator, mas o acho um pouco limitado, de forma que seu Brian não brilhou em cena; o mestre de cerimônias do Kit Kat Club ficou por conta do ator Joel Grey, retomando o papel que interpretou também na Broadway- sinceramente, para mim, a melhor atuação do filme e o melhor personagem disparado, suas aparições pontuam, reincidentemente, a obra, ligando a trama com o seu teor político e/ou ético; Helmut Griem interpreta o sedutor Maximilian, muito bem no personagem. Por suas interpretações, Liza Minnelli e Joel Grey angariaram nada menos que o Oscar, o Globo de Ouro e o BAFTA nas categorias de Melhor Atriz e Melhor Ator Coadjuvante, respectivamente. O filme foi sucesso de pública e crítica - foi agraciado com os prêmios Globo de Ouro e BAFTA e Bob Fosse recebeu o Oscar de Melhor Direção em 1973. A obra é incrível, envolvente e arrebatadora. Eu - que, até hoje, nunca a havia visto - adorei e recomendo fortemente.
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