Filme do dia (75/2020) - "Cicatrizes", de Miroslav Terzic, 2019 - Sérvia. Durante 18 anos, Ana (Snezana Bogdanovic) procurou provas de que seu filho declarado natimorto, estivesse vivo, sem sucesso. No entanto, novas provas poderão mudar o rumo de sua investigação.
Eu gosto de ver filmes sem consultar qualquer crítica antes de assisti-lo para não ser influenciada por impressões externas. Às vezes, eu me dou mal por isso e hoje foi o caso. O filme tem um argumento interessantíssimo - o desaparecimento de milhares de crianças na Sérvia, vendidas e adotadas ilegalmente dentro e fora do país, fato real, ainda sem solução. Daí, passamos para a história da personagem Ana, que busca, incessantemente, há dezoito anos, por respostas à sua dúvida - se seu filho está vivo ou morto, uma vez que jamais lhe foi indicado o local onde foi depositado o suposto corpo da criança. E aqui chegamos ao problema da obra - a narrativa pretende ilustrar a via sacra sem fim da personagem por respostas, sua angústia, a falta de apoio por parte de seu marido e filha, já exaustos pela procura, o descaso das autoridades e o tempo que passa sem nada acontecer. Eu entendo o objetivo do filme. O problema é que é difícil retratar o "nada acontecendo" sem tornar a obra extremamente cansativa. Tem diretores que conseguem expor esta ausência de movimento, este "nada", por vezes de forma até poética. Mas o diretor Miroslav Terzic não alcançou, na minha opinião, este objetivo. Resultado: o filme se mostra extremamente arrastado, tem um ritmo quase negativo e, no fim das contas, não conseguiu me envolver. A personagem deve andar uns quinze quilômetros ao longo da história, de lá para cá e de cá para lá, antes de acontecer qualquer coisa. Sério, é muito plano aberto mostrando Ana andando pelas ruas de Belgrado sem nada mais acontecer, trançando entre hospital, prefeitura, casa e delegacia e ficando somente nisso. Mesmo com uma temática que, usualmente, me toca (como mãe que sou, sou sensível a dramas que envolvem filhos bebês, crianças e jovens), nesse filme eu não embarquei na emoção. Talvez outras pessoas, mais sensíveis que eu, consigam captar essa emoção, essa angústia da personagem, mas, certamente, não foi o meu caso. Por isso, achei chato, bem chatinho. Também não gostei do foco fixo de várias cenas - a imagem desfocada e, depois de algum movimento, chega-se ao foco, ao invés de acompanhar o foco em relação ao movimento (não sei se me fiz entender...). Quanto às interpretações, achei Snezana Bogdanovich uma atriz bem razoável pois consegue demonstrar uma apatia no semblante, mas uma dor excruciante no olhar, não sei explicar. No cômputo geral, o filme me restou cansativo e pouco envolvente. Ainda assim quer ver? Tenta a sorte, então. rs
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