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"Clímax", de Gaspar Noé, 2018

hikafigueiredo

Filme do dia (89/2020) - "Clímax", de Gaspar Noé, 2018 - Um grupo de dançarinos se reúne para um ensaio em um local afastado. Após o ensaio bem sucedido, o grupo passa a festejar, até perceberem que foram drogados, dando início às mais diversas reações.





Entããããão... O filme me agradou demais, mas, tenho uma crítica gigante a fazer ao diretor. Acredito que a obra tenha buscado trazer uma impressão sensorial acerca da experiência com drogas alucinógenas - e se este foi o objetivo, acho que foi extremamente bem sucedido. O filme mostra as mais diversas reações à substância utilizada - provavelmente, ácido - e o espectador experimenta desde a sensação de inebriamento até a descida ao mais profundo inferno, tudo através dos personagens do filme. Diria que o diretor pegou mais pesado com aqueles cuja a experiência transformou-se numa gigantesca "bad trip", conseguindo expor na tela - e assim, envolvendo sensorialmente o espectador - na sensação de paranoia a que os dançarinos foram lançados. Tanto as ideias sugeridas, quanto as imagens apostas na tela são, majoritariamente, fortes e perturbadoras e atmosfera geral é bem tensa. O som também não deixa barato - é muita música eletrônica, alta e sem descanso, além de gritos e lamúrias histéricos, que afetam qualquer mínima sensibilidade do espectador. Sinceramente, o filme foi extremamente hábil na sua representação de "viagem", principalmente pelo uso constante daquela câmera esquizofrênica que caracteriza o diretor - é giro para cá, mergulho para lá, cenas de ponta cabeça, rodopios mil, quem tiver tendência à labirintite talvez deva evitar o filme... Mas o que é mérito do filme, também se torna crítica ao diretor. A primeira vez que vi essa câmera desgovernada de Noé foi em "Irreversível" (2002) - achei o filme brilhante, adorei tudo nele. Corri, então, para assistir "Enter The Void - Viagem Alucinante" (2009) - e o que no princípio foi incrível, tornou-se extremamente repetitivo ao fim da obra, pois o filme se faz em cima da mesma câmera psicodélica e eu senti um "mais do mesmo". Agora, com "Clímax", admito que as imagens rodopiantes vêm muito a calhar, funcionam super bem para dar a sensação de desequilíbrio e pânico e confusão e mais mil coisas - mas indicam que Noé escolheu um roteiro para encaixar numa linguagem, numa estética, em algo que funcionou e ele quer exaurir até o último fôlego e eu não consigo não criticar isso, porque tenha a sensação de que o diretor está mais preocupado na pirotecnia do filme do que naquilo que ele quer dizer com a obra. Tenho, também, sensação de um certo esvaziamento de conteúdo, parece que Noé não tem nada a dizer ao público. Outra coisa que já me encheu no diretor são aquelas frases de efeito que ele lança na tela - cara, deu, né? Será que ele acha que aquele monte de baboseira pseudo-filosófica com a profundidade de uma pizza vai convencer alguém de que ele tem muito conteúdo? Jesus Christ, o filme é melhor do que o diretor (de quem eu gostava e estou gostando cada vez menos). Ah... o uso de corredores coloridos - exatamente como fez na cena do estupro em "Irreversível" - também já deu, na minha opinião. Gaspar Noé precisa se reinventar com urgência. Voltando ao filme, gostei bastante da interpretação de Sofia Boutella como Selva - exprimiu a paranoia e a insanidade melhor que qualquer outro. Outros atores e atrizes se saíram muito bem, mas difícil saber seus nomes no meio daquele auê todo. Ah, as coreografias do início da obra são bem bacanas também. Enfim.. o filme me agradou, o diretor não. Acho que a obra tem um potencial incrível para ser detestada - sério, acho que é mais fácil o espectador não gostar do que gostar do filme. Eu curti, mas eu sou esquisita mesmo. Não sei se recomendo.

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