Filme do dia (413/2020) - "Conquistar, Amar e Viver Intensamente", de Christophe Honoré, 2018 - França, 1993. Jacques (Pierre Deladonchamps) é um escritor de 39 anos, pai de um menino e soropositivo. Usufruindo, recorrentemente, de encontro fugazes com outros homens, ele evita se envolver, dada sua condição de saúde. Ele conhece Arthur (Vincent Lacoste), um jovem estudante bretão, surgindo daí, um verdadeiro interesse de ambas as partes.
A obra discorre um pouco acerca do universo homossexual na época em que ser soropositivo era sinônimo de receber atestado de óbito em breve. Sem se ater à doença em si, mas, sim, ao estado de espírito de quem a levava consigo, o filme acompanha alguns meses da vida de Jacques e de Arthur, este último cada vez mais envolvido com o escritor. Senti, ao longo da narrativa, uma fusão um pouco caótica de diferentes humores vindos dos personagens - ao mesmo tempo em que existia certa urgência no contato físico, na boa e velha "pegação", uma necessidade premente do sexo casual, havia um pânico dissimulado em quase aversão pelo envolvimento emocional - apaixonar-se era um risco e sonhar com um futuro, uma ilusão proibida. Jacques oscila entre negar o envolvimento afetivo e abraçá-lo, seja com Arthur, seja com o ex-namorado em estágio bem mais avançado da doença. É uma obra que começa com uma certa leveza - mas não se iluda, o filme se tornará mais pesado a cada minuto de duração. A narrativa é linear, o ritmo é moderado e a atmosfera é crescentemente depressiva. Percebi certo diálogo da obra com o excepcional "120 Batimentos por Minuto" (2017), filme que vale a pena conferir. O roteiro, no geral, é bem desenvolvido, mas senti que ele rateou um pouco no início, demorando um pouco para tomar uma forma. O filme traz algumas referências culturais, tanto acerca de cinema, quanto teatro e literatura, com homenagens a filmes como Querelle (1982), diretores de cinema como François Truffault, peças de teatro como "Orlando" e trechos de obras literárias (essas não consegui guardar na memória para mencionar). Nenhum detalhe técnico me chamou muito a atenção, por isso não darei destaques. Quanto às interpretações, ainda que ambos os atores centrais estivessem bem em seus papeis, não consegui sentir uma química profunda entre os personagens, como senti, por exemplo, no excelente "De Repente, Califórnia" (2007), o que me deixou um pouco frustrada, pois a história exigia a existência dessa química. Ainda assim, gostei do "peso" que Pierre Deladonchamps trouxe a Jacques, uma certa circunspecção de quem não pode perder de vista a sua própria condição, ainda mais em comparação à leveza apresentada pelo personagem Arthur. Sem dar spoilers, vou revelar que é uma obra muito triste, que não faz concessões - terminei de assisti-la carregando uma angústia que nem vou falar. Não vejam se estiverem depressivos, pois tem gatilho no filme, okay?
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