Filme do dia (207/2017) - "Cronicamente Inviável", de Sérgio Bianchi, 2000 - Diversos personagens, cujas vidas se tocam e entrelaçam, de diversos segmentos sociais, enfrentam a árdua tarefa de viver e sobreviver no caos que é o Brasil.
A obra - bárbara, diga-se de passagem - é uma verdadeira metralhadora crítica. Sobram divagações ácidas para tudo e todos, focando, em especial, na sociedade brasileira e seus atores. Algumas críticas, inclusive são especialmente atuais, como a crítica à indignação seletiva, ao explorado que almeja o cargo de explorador ("a esperança de um dia ser de alguma forma senhor faz com que seja suportável a dominação"), ao "jeitinho brasileiro" ("no Brasil, qualquer um é trambiqueiro. Tudo foi construído a institucionalizar o trambique"), ao papel do homem no sistema capitalista ("escravo é valor de uso, ofice-boy é valor de troca, mas é um mero fetiche de uma mercadoria como outra qualquer"), dentre outras. Tanto a elite brasileira quanto as classes mais populares são igualmente fustigadas pelo texto cirurgicamente crítico, as primeiras por sua insensibilidade e voracidade, as últimas por serem conviventes com seus algozes. Mas, definitivamente, a maior (e melhor) de todas as críticas é quanto à hipocrisia brasileira (quer coisa mais atual que isso????) . O texto é riquíssimo, muito bem estruturado e, se não aprofunda cada item - o que, por si só, já seria impossível - ao menos abarca uma considerável gama de facetas da nossa sociedade. O filme, ainda, tem uma narração com uma pegada meio "Ilha das Flores" que eu achei bem interessante. Por outro lado, o que o texto e o conteúdo tem de rico, a forma deixa um pouca desejar. Ao contrário de várias obras nacionais, aqui o som tem uma boa qualidade (bem acima de outros filmes), mas a fotografia não me agradou (várias foram as cenas escuras, cujos detalhes da imagem ficaram irreconhecíveis). Também tenho ressalvas quanto à direção de atores - apesar do elenco contar com gente muito boa, como Dira Paes (que eu adoro!!!) e Betty Gofman, muitas foram as falas que soaram falsas, meio canastronas. Os destaques do elenco ficaram por conta de Daniel Dantas, Dan Stulbach (novinho!!!!) e Zezeh Barbosa, muito bons em seus papeis. Por fim, adorei as passagens onde os personagens se eximiram de seus erros, sempre jogando para o outro a sua responsabilidade - "a culpa não é minha!!!" (numa delas com a maravilhosa Maria Alice Vergueiro). Filmaço, maravilhoso, recomendo muito!!! PS - agradecimento à amiga Liz Frizzine pela dica quentíssima!!!!
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