“De Repente na Escuridão", de Ko Young-nam, 1981
- hikafigueiredo
- 11 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
Filme do dia (82/2024) – “De Repente na Escuridão", de Ko Young-nam, 1981 – O professor universitário Kang Yu-jin (Yoon Il-bong) e sua esposa Seon-hee (Kim Young-ae) contratam a jovem Mi-ok (Lee Ki-seon) como empregada doméstica. A moça, filha de uma xamã recém-falecida, traz consigo uma estranha boneca de madeira, da qual jamais se separa. Seon-hee, incomodada pela beleza e juventude da criada, passa a desconfiar de uma suposta infidelidade do marido com a jovem e começa a crer que a empregada quer matá-la para usurpar sua casa e família.

Esta surpreendente obra sul-coreana traz todas as características que me levam a gostar de um filme de terror, começando por uma clara ambiguidade quanto aos acontecimentos. Como ocorre nos meus dois filmes de terror prediletos – “Os Inocentes” (1961) e “Desafio do Além” (1963) – existe uma dúvida quanto aos eventos sobrenaturais que acompanhamos na tela – eles estariam realmente acontecendo ou seriam apenas a imaginação doentia da personagem vítima destes episódios? Na história, a dona-de-casa Seon-hee contrata uma jovem empregada órfã, filha de uma xamã e que carrega constantemente uma boneca de madeira, presente da mãe recém-falecida. Rapidamente, Seon-hee desenvolve uma profunda desconfiança quanto à criada, passando a acreditar em um possível caso dela com seu marido. Na medida em que a desconfiança aumenta, a esposa suspeita de que a empregada quer matá-la e usurpar seu lugar na família, vendo, na boneca de madeira, comprovações de suas suposições. Quando o marido começa a pressioná-la para procurar um psiquiatra, Seon-hee convence-se de que tudo é uma trama para afastá-la de casa. A narrativa assume, deste o início, o ponto de vista de Seon-hee, mantendo-se nesta visão dúbia da realidade. Não espere respostas fáceis – cada espectador fará sua leitura pessoal do que está acontecendo na história. A narrativa é linear, num ritmo ágil e crescente, com um clímax muito bem definido. A atmosfera é de tensão e dúvida, provocando um medo palpável em algumas cenas. Apesar de termos duas ou três cenas de jumpscare, a obra encaixa-se no melhor terror psicológico possível. O argumento é ótimo e o roteiro desenvolve-se de um jeito muito satisfatório até o desfecho perfeito. Formalmente, o filme também me agradou bastante. Gostei muito da fotografia, que faz uso de posições de câmera sofisticadas, vários plongées e contra-plogées e câmeras subjetivas, além de abusar de cores saturadas, muita luminosidade e efeitos óticos que remetem ao estilhaçamento interior de Seon-hee. O desenho de produção, por sua vez, aproveita os ambientes para enchê-los de cores vibrantes, principalmente o vermelho, o verde e o azul. A caracterização dos personagens e, especialmente, da boneca, consegue colaborar com o estabelecimento de atmosfera – Seon-hee como a esposa tradicional e insegura, Mi-ok como a ingênua, mas sedutora, criada e a boneca como o elemento que causa estranhamento e leva a teorias. O trabalho dos intérpretes é muito bom, com destaque para a interpretação de Lee Ki-seon como Mi-ok e Kim Young-ae como Seon-hee, ambas trazendo espessura às suas personagens. Destaque para o arco final, extremamente tenso, e para a cena “da porta”, uma evidente menção ao filme “O Iluminado”, lançado um ano antes, outro ícone do terror subjetivo. Eu gostei demais do filme, foi uma experiência muito positiva. Como era de se esperar, o filme não está disponível em streaming, só em torrent ou mídia física.
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