Filme do dia (118/2020) - "De Repente, Num Domingo", de François Truffaut, 1983 - Um homem é assassinado e as suspeitas recaem sobre Julien Vercel (Jean-Louis Trintignant), visto ser, tal homem, amante de sua esposa e suas digitais terem sido encontradas nas proximidades do local do crime. Vercel esconde-se e sua secretária Barbara (Fanny Ardant) passa a investigar o caso.
Última obra do diretor François Truffaut, o filme é um policial que flerta com o noir, ainda que subverta, em parte, suas características, pois, quem toma a frente nas investigações é uma mulher, a personagem Barbara, algo impensável nos filmes noir clássicos. A história gira em torno das investigações acerca do(s) assassinato(s) e o espectador questiona-se, constantemente, acerca da culpa ou não do personagem Julien Vercel - a narrativa é muito bem construída no sentido de manter o público na dúvida até a cena final (e eu que, via de regra, canto bola, não consegui prever quase nada da história). A atmosfera é de tensão e suspense, muito bem estabelecida, lembrando os filmes de Hitchcock (não é segredo para nenhum cinéfilo a admiração de Truffaut pelo diretor inglês). O flerte com o noir se dá não apenas pelo tema policial/investigação, mas, principalmente, pela estética, pela fotografia P&B, pela montagem que privilegia detalhes e olhares e pela trilha sonora pontuando o suspense. Fanny Ardant interpreta a personagem Barbara com competência - ela, como o espectador, também não sabe o que aconteceu de fato, não obstante acredite piamente, por motivos pessoais, na inocência de seu empregador. Jean-Louis Trintignant também está bem como Vercel e consegue levar a dubiedade do personagem até o final. Filme interessante, instigante - ainda que não seja muito meu gênero predileto - e que demonstra, mais uma vez, que Truffaut era um grande realizador de filmes. Recomendo.
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