- hikafigueiredo
"De Volta Para Casa", de Fréderic Videau, 2012
Filme do dia (151/2017) - "De Volta Para Casa", de Fréderic Videau, 2012 - Gaëlle (Agathe Bonitzer) foi sequestrada aos dez anos por Vincent (Reda Kateb). Anos se passam até que seu sequestrador, subitamente, a liberta. Gaëlle terá de se readaptar ao mundo onde não mais se reconhece.

A obra gira em torno da busca da personagem por sua identidade perdida e, também, de seu lugar no mundo. O filme mostra como a menina desenvolve certa "Síndrome de Estocolmo" (quando um sequestrado se identifica com seu sequestrador a ponto de defendê-lo), mantendo com Vincent uma relação de amor e ódio e, após sua libertação, a percepção de não mais pertencer ao mundo exterior, restando-lhe, tão somente aquele pequeno estrato de realidade referente ao seu claustro. Algumas considerações: não me convenceu o tratamento dispensado a Gaelle por Vincent. Realmente acredito que sequestradores aprisionam suas vítimas justamente para subjugá-las e terem completo controle sobre suas existências, externando personalidades cruéis e despóticas. Vincent é delicado, amoroso, com Gaelle - não a agride, não toca nela, faz todas as suas vontades. Okay, talvez isso torne o filme muito mais instigante, pois é fácil desenvolver ódio por um sequestrador sádico ou violento, mas e se o sequestrador for delicado e amoroso? Sua crueldade em aprisionar sua vítima e mantê-la em cativeiro é menor por dispensar tratamento humano e "respeitoso" ? É, a forma como Vincent foi retratado, apesar de pouco verossímil, enriquece bastante a discussão. Quanto ao desencaixe da vítima no mundo, foi bem construído, apesar de achar que o mesmo tema em "O Quarto de Jack" foi ainda melhor explorado. Diferentemente de outro filmes sobre o tema, como "3096 Dias de Cativeiro", a obra não discorre sobre o sofrimento extremo da vítima durante sua prisão; também não temos, aqui, em nenhum momento, a sensação de claustrofobia e aprisionamento de outros filmes. O sentimento preponderante não é o de sufocamento, infelicidade ou submissão, mas, sim, o de inadaptação e estranhamento. Gostei da interpretação da dupla central. com uma pequena preferência por Reda Kateb. É uma obra interessante, que abre margem a uma boa discussão. Gostei e recomendo.