Filme do dia (47/2019) - "Depois de Horas", de Martin Scorsese, 1985 - Paul Hackett (Griffin Dunne) leva uma vida aborrecida como funcionário corporativo. Certa noite, em um café em Manhattan, Paul conhece Marcy (Rosanna Arquette), uma bonita e estranha mulher, que o convida para a casa de uma amiga no Soho. A decisão de Paul de encontrar Marcy no Soho fará ele viver sua mais longa noite na vida.

Esse filme, quase esquecido na filmografia de Scorsese, foi o responsável pela minha descoberta do diretor, láááá em "mil novecentos e guaraná com rolha", e deve ser umas das obras a que mais assisti na vida, sendo, inclusive, objeto de um trabalho de faculdade quando estudava na ECA. Com elementos de uma "comédia de erros", mas com atmosfera de filme de suspense, a obra acompanha a noite de Paul, longe de sua casa, quando tudo o que poderia dar errado, dá. O filme tem início lento, mas, gradativamente, ganha ação e ritmo, como uma grande bola de neve descendo a ribanceira. É divertidíssimo ver a jornada de Paul, noite adentro, encontrando os mais esquisitos tipos do bairro boêmio do Soho. Talvez resida aí o maior mérito da obra - trazer para as telas toda uma "fauna humana" que transitava pelo mundo na década de 80 e que se contrapunha à sociedade considerada "normal", que, para Paul e para outras pessoas, era sinônimo de tédio e desolação. Assim, o filme é um belo registro daquela época. Cabe, aqui, uma curiosidade sobre o filme: há, na narrativa, uma personagem de nome Julie, interpretada pela ótima Terri Garr, que vive imersa na década de 60. Com penteado, roupas e gosto pela cultura sessentista, na época do filme ela parecia incomodamente anacrônica, a ponto de Paul ter certa aversão a ela. Mas, vejam só: atualmente, com a ascensão da moda "vintage", Julie não só não parece anacrônica, mas tem um "look" super transado para os nossos dias. Minha filha, de 19 anos, que assistiu ao filme comigo, não conseguiu entender porque Paul parecia tão contrariado por ser abordado por Julie - as mudanças que vieram a ocorrer fizeram com que um trecho do filme fosse incompreensível para novos espectadores!!!! rs. Voltando ao filme, merece destaque a fotografia com ares publicitários, tão em voga na época. A câmera que se move rápido pelos ambientes continua sendo um ponto forte do filme. A edição do filme também merece destaque, pois responsável pelo crescente ritmo impresso na obra. Quando às interpretações. Griffin Dune está bem à vontade na pele do yuppie azarado Paul. Rosanna Arquete me soou um pouco exagerada como Marcy. No elenco, ainda, Linda Fiorentino como Kiki Bridges, Terri Garr como Julie, Verna Bloom como June, Catherine O'Hara como Gail e John Heard como Tom. Ah, sou bem suspeita para falar dessa obra, pois a adoro, a ponto de sabê-la decor. Ainda que seja um Scorsese menor, acho que vale a pena.
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