Filme do dia (326/2021) - "Dublê de Corpo", de Brian De Palma, 1984 - Após ser dispensado de um filme por sofrer um surto de claustrofobia, o ator Jake Scully (Craig Wasson) descobre a traição da namorada e se vê sem trabalho e sem lugar para morar. Entre aulas de atuação e testes de elenco, ele conhece o ator Sam Bouchard (Gregg Henry) que lhe oferece teto em uma mansão cinematográfica, pertencente a um amigo. Jake aceita a oferta sem saber que isso lhe trará terríveis consequências.

O filme é um indisfarçado tributo ao mestre absoluto do suspense, Alfred Hitchcock. Usando elementos conexos aos encontrados nas obras "Um Corpo que Cai" (1958) e "Janela Indiscreta" (1954), o filme constrói um delicioso e tenso thriller que homenageia o trabalho do diretor britânico. A história parte da situação desesperadora em que o personagem Jake se encontra - sem trabalho, dinheiro ou moradia, ele aceita a proposta de um novo colega e se instala em uma mansão por alguns dias, supostamente para cuidar do imóvel e das plantas nele existentes. Antes de viajar a trabalho para outra cidade, o novo amigo lhe revela um segredo - uma vizinha que se exibe, nua, todas as noites, no mesmo horário e que pode ser observada da mansão em que Jake está através de uma luneta. O ator rapidamente fica fascinado pela bela mulher e, ao observá-la, percebe que ela está sendo seguida por um homem. A referência ao filme "Janela Indiscreta" é óbvia, trazendo o mesmo elemento voyeurístico. Jake, no entanto, sofre de claustrofobia, condição que, por vezes, impede sua ação. A referência, no caso, passa a ser a obra "Um Corpo que Cai" - sai a acrofobia do protagonista, entra a claustrofobia, ambas como elemento limitante. O filme, ainda, tem passagens metalinguísticas, onde realidade daquele universo ficcional e o espaço fílmico se confundem, decorrentes da profissão do protagonista. A narrativa é linear, ainda que, por vezes, entremeada das mencionadas situações metalinguísticas. O ritmo é marcado e crescente, num atmosfera tensa e repleta de questionamentos. De Palma entrega aos espectadores um filme minuciosamente construído para criar dúvidas e tensão e, diga-se de passagem, faz isso muito bem. Com uma câmera perscrutadora, a fotografia do filme colabora imensamente com o clima de sedução e apreensão, aproximando-se ou afastando-se do objeto observado, dependendo do momento. O elenco é composto por Craig Wasson como o protagonista Jake - ainda que não comprometa o personagem, é evidente as limitações do ator; como o personagem Sam Bouchard, Gregg Henry, outro ator pouco inspirado; no papel de Gloria Revelle, uma linda e canastríssima Deborah Shelton - ela é péssima por qualquer ângulo que se olhe; quem se sai melhor no filme, definitivamente, é Melanie Griffith no papel de Holly Body - a personagem é pouco desenvolvida, não tem espessura, mas Griffith a interpreta com graciosa espontaneidade e desenvoltura, tanto que foi indicada para Melhor Atriz Coadjuvante no Globo de Ouro (1985). Apesar do elenco limitado, De Palma entrega um filme com induvidosas qualidades, que funciona muitíssimo bem, exclusivamente pelos méritos do diretor. Eu já havia visto a obra pouco depois de seu lançamento, mas acho que gostei mais na revisita, já que na época não reconhecia as referências. É um thriller bem legal. Recomendo.
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