Filme do dia (341/2021) - "Educação Sentimental", de Alexandre Astruc, 1962 - O jovem e humilde Frédéric (Jean-Claude Brialy) muda-se para Paris, onde se hospeda com seu primo rico, Charles Dambreuse (Pierre Dudan). Através da esposa deste, Catherine (Dawn Addams), ele conhece Anne Arnoux (Marie-José Nat), casada com Didier (Michel Auclair), e por ela se apaixona.
Baseado no romance homônimo de Gustave Flaubert, o filme é um retrato da classe média francesa, mais interessada em dinheiro, poder e relações por interesse do que em relações reais baseadas em afeto e confiança. Na história, temos o introspectivo Frédéric, cujo principal interesse está nos livros e em seus estudos. Ele despreza a sociedade que o cerca, fútil e dominada pelo velho "toma lá, dá cá". Ao conhecer Anne, a delicada e dedicada esposa de Didier, protegido de Charles, ele logo se apaixona por sua doçura e fragilidade. A sociedade que os cerca, no entanto, se incumbirá de impedir a aproximação de Frédéric e Anne. A obra acompanha Frédéric com certo distanciamento e, curiosamente, ainda que trate dos sentimentos conturbados e das emoções à flor da pele do protagonista, mantém certa frieza no olhar. A história, além de focar na paixão do personagem, ainda trabalha com os hipócritas jogos de interesse sociais, onde todos os personagens são peças. A narrativa é linear, em um ritmo moroso. Diferentemente de outros filmes da Nouvelle Vague, mais ousados em termos formais, a obra é bastante convencional em sua linguagem. A fotografia P&B é limpa e suave e aposta em planos e posições de câmera bem tradicionais, sem invencionices. A trilha sonora me incomodou um pouco pelo uso exagerado de "pontuação" em cenas mais sentimentais - cada vez que o casal Frédéric e Anne se encontravam de uma maneira mais emocionada, lá vinha a mesma música pontuando, subindo o tom e o volume (lá pelas tantas, isso ganhou certo ar cômico para mim). As interpretações que merecem algum destaque são a de Jean-Claude Brialy como protagonista - o ator consegue transmitir a simplicidade e autenticidade do personagem, pouco afeito a aparências e interesses e sinceramente apaixonado por Anne; a de Marie-José Nat como Anne - como seu companheiro de elenco, a atriz é hábil em expressar a indecisão e fraqueza da personagem, dividida entre o amor por Frédéric e seu papel de esposa perfeita perante a sociedade; e a de Dawn Addams como Catherine - a personagem, mais falsa que nota de três reais, é a principal "jogadora" no tabuleiro social e passa a história toda manipulando os demais personagens segundo seus interesses. Olha... o filme não é excepcional como outros da Nouvelle Vague vistos recentemente, mas guarda virtudes e me foi agradável de assistir - certamente a base da história, o texto de Flaubert, foi bastante responsável pelo interesse que me despertou. Não seria o primeiro filme do movimento que eu indicaria, porém é interessante para quem quer conhecê-lo melhor. Eu gostei e achei que vale a pena.
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