Filme do dia (81/2024) – “Enfeitiçados”, de Chih-Hung Kuei, 1981 – Um policial investiga o caso de um homem que matou, de forma cruel, a própria filha pequena. O assassino alega que foi enfeitiçado em uma viagem à Tailândia. Intrigado com o relato do acusado, o policial viaja para a Tailândia para averiguar a história e se surpreende com as consequências de sua investigação.
Continuando o box de Terror Asiático, eu me deparo com mais uma produção do estúdio Shaw Brothers. Já me preparei para a produção de baixo orçamento, história bizarra e estética setentista tardia – e foi mais ou menos o que encontrei mesmo. A história discorre sobre um policial que investiga o assassinato de uma menina por seu próprio pai. Muito embora seu ceticismo, o policial resolve averiguar a alegação do assassino de que fora enfeitiçado em uma viagem para a Tailândia e, assim, viaja ao referido país para seguir os passos do acusado naquele local. Confesso que achei o argumento e desenvolvimento da narrativa bem interessantes e instigantes, mas, para mim, o que deixa a desejar é a execução. Eu, particularmente, adoro filmes de terror sobrenatural, o que é exatamente o que temos nesta obra. Como em tantos filmes que eu gosto, aqui temos a velha e boa luta do bem contra o mal, através de algo que lembra o binômio possessão-exorcismo, só que numa versão oriental. Fiquei curiosa para saber se os feitiços expostos na história existem naquela cultura ou se foram inventados, mas não consegui descobrir quase nada sobre o filme, então vou ficar na dúvida. Eu gostei de como foram mostrados os tais feitiços, misturando horror e repugnância, causando, em mim, um efeito bem bacana de interesse e aversão concomitantes. Mas, se a temática e o desenvolvimento do roteiro me agradaram, o que faltou para o filme ter aprovação total? A execução. É evidente que a produção teve um orçamento bem limitado, de forma que faltou ali um cuidado formal e técnico, certamente por conta desta limitação. Ainda que os cadáveres do filme – temos alguns ao longo da história - tenham uma aparência bem exótica e asquerosa, falta a eles um realismo do qual senti a ausência. A mesma coisa com o sangue cenográfico, mais parecido com tinta acrílica do que com o fluído corporal em questão. Mais bizarras as cenas de rostos e corpos cheios de pústulas purulentas, dos quais saíam líquidos esverdeados, nada naturais e convincentes, mas nem por isso menos impressionantes e repugnantes. As escolhas técnicas e estéticas também não me agradaram – a fotografia simplória não ajudou, em momento algum, no estabelecimento de atmosfera de tensão ou terror. A edição também poderia ser bem melhor, pois senti o ritmo do filme muito irregular, quebrado – “corrido” em alguns momentos e “preguiçoso” em outros, sem muita justificativa para essa alternância desordenada. Por fim, o desenho de produção meio esquisito, com algumas cenas que mais pareciam improvisadas, com uma aparência de desleixo não proposital. Para coroar tudo, interpretações falsas, forçadas e sem qualquer naturalidade – eu sei que isso é bem comum no cinema de Hong Kong, praticamente um estilo específico de interpretação daquele momento, mas é um trabalho que não me agrada, não tem jeito. No final das contas, o filme tem muitos méritos no quesito de roteiro e poucos na já mencionada execução. Acho que pode agradar quem curte o estilo das produções da Shaw Brothers, mas acho que, para o público médio, o filme vai parecer meio... tranqueira. Não vou dizer que detestei o filme, mas também não posso falar que o adorei - diria que é mediano para menos. Nem achei no Justwatch, só possível de ver por torrent ou mídia física.
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